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sábado, 17 de maio de 2008

A Abolição da Escravidão

A Abolição da Escravidão 13 de Maio: A Revolução Social Brasileira Por Henrique Cunha Júnior * 13 de maio tem sido uma data pouco comemorada e pouco analisada no calendário nacional e escolar. Já foi feriado nacional e depois deixou de ser. Mas deveria ser uma reivindicação da população que datas como 13 de maio e 20 de novembro fossem cercadas por grandes manifestações, que tivéssemos na escola e na sociedade um símbolo importante marcado por estas datas para refletirmos sobre a realidade brasileira, sobre a nossa história e sobre as conquistas populares. Em todos os países da América onde houve escravismo recente, a data da abolição é comemorada com grandes festas, muitos discursos e uma ampla revisão histórica. Aqui no Brasil, pelo contrário, se quer fazer esquecer o 13 de maio, pois uma parte da sociedade não quer ser considerada culpada pela criminalidade do escravismo, enquanto outra parte perdeu o referencial do que o 13 de maio representa para as lutas do povo brasileiro. O primeiro fato importante que tem sido omitido da população brasileira sobre o 13 de maio - me é daí que leva a não darmos importância a ele -, é o que permite uma parcela da população fazer de conta que não tem importância o escravismo e o quanto foi criminoso. Por outro lado, o 13 de maio tem sido omitido enquanto resultado de um longo processo de lutas do negro brasileiro e da população consciente contra o regime criminoso do escravismo. O Escravismo foi Crime Contra a Humanidade A maioria das pessoas tem vergonha de dizer que são descendentes de escravizados. Isto porque existem informações errôneas e antiéticas sobre a história brasileira. Se tivéssemos a informação correta, moral e ética, diríamos que o escravismo foi um regime criminoso contra a humanidade, de leis e fatos, imorais, antiéticos, condenáveis em qualquer sociedade que fizesse bom juízo dos fatos. Quem deveria ter vergonha, pois roubou e matou, viveram na continuidade dos benefícios do roubo. Algumas pessoas vão erradamente argumentar: mas era lei da época. Não justifica. Vejamos como comparação o que ocorreu durante o nazismo na Alemanha. As leis da época do nazismo permitiam a prisão e o massacre dos judeus. Passado o nazismo, todos que governaram e se beneficiaram do regime foram julgados e condenados. Tinham estabelecido lei de estado criminosos que atentavam contra a humanidade. Portanto, crime é crime, com lei ou sem lei que os proteja. Assim deveria ter ocorrido com o escravismo. Atualmente, apenas a Igreja Católica, através do Papa admitiu o erro, demonstrou ter vergonha do erro, do regime. Deveria ser referencial para começar a discutir o 13 de maio. O enfoque sobre o escravismo como crime contra a humanidade, leva a uma possibilidade de discutir melhor o 13 de maio, como ele foi e não como é pensado agora. O 13 de maio é o fim da criminalidade praticada pelo estado brasileiro e por todos aqueles que se beneficiavam vergonhosamente do trabalho roubado da população negra. Mas o que realmente ocorreu no 13 de maio? Onda Negra Medo Branco Azevedo (1987)¹ elucida parte do que provocou assinatura da abolição do escravismo em 13 de maio de 1888. Primeiro, boas parte da população africana e Afro-descendente que vivia no Brasil já tinha conseguido reconstituir a liberdade perdida por diversas formas de luta contra o escravismo. Entretanto, no 13 de maio 700.000 pessoas que ainda eram mantidas injusta e criminosamente no regime de cativo readquirem a liberdade. Esta é, portanto, a maior mudança constitucional do país. A população do país nesta época era de 6.000.000 habitantes. Portanto, uma parcela considerável ascende à liberdade. O dobro desta população já tinha a liberdade através das lutas de Quilombos e de outras formas como a compra de alforrias, através de leis anteriores como a do ventre livre e a dos sexagenários. Possivelmente, mais do dobro dos negros, africanos e descendentes já estavam livres no momento do 13 de maio. Isto produzia, também, um medo dos brancos poderosos de que a população negra, tanto livre como escrava produzisse uma revolução total e conjunta, depusesse os brancos do poder como tinha ocorrido a quase um século antes do Haiti. No Brasil, as revoltas dos escravizados eram muito comuns. Os quilombos eram numerosos em todas as partes do país e os brancos proprietários viviam em clima de pavor contra possível reação da população livre escravizada. Mesmo porque, nem todos os brancos apoiavam o regime criminoso do escravismo. Pelo contrário, muitos deles se uniram aos negros para lutar contra o regime. Antes da guerra do Paraguai (terminada em 1872), o governo brasileiro usava o exército para controlar as revoltas da população negra. Foi assim que Caxias e outros militares fizeram carreira, destruindo Quilombos, eliminando revoltas populares. Mas a guerra do Paraguai trouxe nova consciência ao exército ao exército nacional. Ficou evidente que a função do exército não era defender os grandes proprietários e mantê-los no seu estado criminoso de beneficiados pelo escravismo. O exército existia para defender a nação e manter a soberania nacional, não para servir contra o povo. Depois da guerra do Paraguai o exército passou a se negar a perseguir os negros revoltosos, ficando estes casos para a polícia e os militares locais. Assim aumentou o medo branco, eles mesmos começaram a pensar na abolição como forma de evitar uma revolta maior da população negra. Entretanto, a abolição foi discutida num longo processo na sociedade brasileira. Negros ilustres como Luís Gama, Quintino de Lacerda, José do patrocínio participaram ativamente destes debates. Daí que, a Assembléia Nacional reunida no Rio de Janeiro em 1888 votou a abolição do escravismo. Decidido o fim do escravismo, o Estado brasileiro saia da situação de criminalidade contra a humanidade que se mantinha até então. Logo, em 13 de maio de 1888 a lei foi assinada. Portanto, não foi princesa nenhuma que deu liberdade aos negros. A liberdade foi uma conquista da população brasileira, uma vitória dos movimentos populares. Temos assim, uma confirmação de que governantes estavam criminosamente errados e neste dia, o erro foi abolido. É neste sentido que a abolição foi comemorada pela população brasileira nos dias 13 e 14 de maio e deveria ser comemorada até o presente. A lei existiu, mas não foi completa Os poderosos capitularam, perderam, mas não se entregaram. A lei deveria ter sido votada com um amplo apoio, indenização e reintegração dos escravizados à sociedade brasileira. Entretanto, os poderosos omitiam a discussão do direito da população que tinha sido escravizada. Fizeram um esforço e conseguiram que a sociedade nunca discutisse o escravismo a luz dos valores éticos e morais. Fizeram uso dos meios de propaganda para transformar pessoas criminosas em generosas. Generosas por terem "dado" a liberdade aos negros. Isto foi e ainda é uma manipulação de informação histórica. É a omissão dos culpados pelo crime e a manipulação de informação destes por histórias deturpadas. Hoje chega a se dizer que o escravismo no Brasil foi brando, que os chamados senhores foram bondosos, que até cruzarem com os negros. Escravidão é crime, os escravistas foram criminosos, não existe nada que os isentem, a não ser o nosso esquecimento da verdade ou a nossa inconsciência produzida pela informação malévola. A lei de 13 de maio foi incompleta, poderia ter resolvido problemas nacionais dos quais até padecemos como é o caso da reforma agrária e do aceso das populações a terra. Poderia ter promovido uma repartição da renda retornando aos ex-escravizados, através de políticas o que nos seria de direito. Visto não ter sido feito, o país até hoje sofre destes erros. Existe, portanto, mais motivos para festejarmos e realizarmos uma revisão ética da nossa verdadeira história nacional nesta data. O 13 de maio é uma revolução nas datas nacionais, é uma verdade para a população negra e brasileira. As classes escravistas foram criminosas e a humanidade deve julgá-las. O que ocorre depois da aula do 13 de Maio nas escolas No enfoque tradicional do 13 de maio as alunas e alunos negros vivem um pesadelo. Depois da são motivos de chacotas, gracinhas e xingamentos pelos estudantes que se acham brancos, mesmo porque a aula sobre 13 de maio costuma ser duplamente falha. O que temos é o reforço mais eloqüente de desinformações históricas e deseducativas alinhadas aos esforços dos discursos racistas. As gracinhas e piadas não são inocentes, não são coisas de crianças ou brincadeiras. Elas são manifestações de racismo e preconceitos que tiveram suporte no processo deseducativo propiciado pela sala de aula repetindo as formulações antigas e impensadas sobre o 13 de maio. O que ocorre na aula dos educadores e educadoras desinformadas? Aqueles que não passaram por uma reflexão nova, por uma visão renovada do 13 de maio? Eles repetem as fórmulas da cultura do racismo e do preconceito. Não adianta dizer que os educadores não são racistas e preconceituosos. São sim. Façam uma revisão de consciência sobre o que elas e eles pensam sobre o negro, sobre o escravismo e sobre a África. Vejam se existe alguma coisa de positivo é um forte sinal da presença do racismo nas próprias idéias. Idéias que não são só suas, foram transmitidas continuamente nos processos do cotidiano e nos processos educacionais. Vejam o que a sociedade no senso comum repete: negro não presta, a negra fede, negro é preguiçoso. Repetem daí o que a escola também fala: o negro foi escravo, os negros vêm de tribos africanas de homens nus. São informações erradas. O que sai destes dois diálogos, o do cotidiano da rua com o da escola? Saem apenas visões negativas sobre os africanos e os descendentes destes fortalece a cultura do racismo. No 13 de maio estes discursos ficam eloqüentes, o escravo é o negro coitadinho, humilhado. Os alunos que se pensam brancos reforçam as idéias de inferioridade dos negros e aí expressam seus racismos através de piadas. Um exemplo: hei negão, se não fosse a Isabel tu estarias apanhando! Isto é racismo. Outro aspecto que a escola não foi capaz de trazer à realidade nacional em discussão está na manutenção das idéias sobre raças e cores de pele. Não foi capaz de ver que a maioria daqueles que estão ali na sala são descendentes de africanos escravizados no Brasil. A escola não foi capaz de mostrar um horizonte mais amplo sobre a história da humanidade. História, na qual, os portugueses, mesmo antes de 1500 já tinham forte miscigenação com os africanos da mesma forma os italianos e os franceses. Não foi capaz, também de trazer para a consciência dos alunos que os europeus tinham sido escravizados muito antes da vinda para o Brasil, que houve na história da humanidade os dias em que os europeus escravizaram europeus. Por isto, de uma maneira geral todos, negros ou brancos são, de alguma maneira, descendentes de escravos. Apenas mudou o período histórico e o lugar, ou seja, os negros no Brasil entre 1532 e 1888 foram escravizados por criminosos brancos. Henrique Cunha Júnior é professor da Universidade Federal do Ceará e colaborador do Historianet Fonte: http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=508

terça-feira, 13 de maio de 2008

“Economia Solidária, Soberania Alimentar e Agroenergia”




Edson Pilatti da Fundação Unitrabalho lê a carta no início do Seminário


O Seminário: “Economia Solidária, Soberania Alimentar e Agroenergia” marca o início de um plano de ação no sentido da promoção do desenvolvimento territorial sustentável e solidário para o fortalecimento da cadeia produtiva da agroenergia na agricultura familiar nas regiões noroeste e centro-norte do Paraná.

A defesa da soberania alimentar e energética é o tema que permeia os debates que se realizam nos principais fóruns de discussão mundial na atualidade. Questões como o aquecimento global e a sustentabilidade da vida no planeta tem relação direta com esse tema.

Reflexões desenvolvidas no âmbito da Primeira Conferência Nacional Popular de Agroenergia realizada em Curitiba entre os dias 29 a 31 de outubro de 2007, demarcam e reafirmam as grandes diferenças entre a civilização desejada pelos movimentos sociais organizados e a civilização implementada pela lógica do lucro e do mercado, que devasta a natureza, concentra a riqueza e o poder nas mãos de poucos e gera pobreza e desigualdade social.

Nesse sentido, queremos igualmente reafirmar nosso compromisso com a construção de uma civilização baseada em uma relação de harmonia entre a humanidade e a natureza, assentada em valores éticos em que prevaleça a igualdade como premissa para a justiça social e ambiental e que respeitem todas as formas de vida.

A produção de alimentos é a finalidade prioritária a ser feita da terra, da água, do sol, do ar, do subsolo e da biodiversidade, que devem ser conservados proporcionando trabalho e qualidade de vida para quem nela vive e trabalha.

Assim, a soberania alimentar e energética é o direito do povo a produzir e controlar os alimentos e a energia para atender suas necessidades.

A agroenergia deverá ser produzida de forma diversificada e complementar à produção de alimentos, baseada nos princípios da agroecologia. Ao mesmo tempo é necessário construir uma economia que se integre nacionalmente a esse processo de produção agroenergética de forma sustentável.

Nesse sentido, reafirmamos os princípios da economia solidária e da autogestão como um modelo organizativo a ser adotado na nossa relação produtiva com a natureza com adoção de práticas agroecológicas.

A produção e a gestão na forma de pequenas unidades energéticas, comunitárias ou familiares sob controle dos camponeses ou comunidades tradicionais é o modelo energético popular e descentralizado que queremos construir, pois expressa as necessidades sociais e as características e potencialidades locais e regionais.

Assim, a agroenergia produzida pela agricultura familiar e a utilização racional de recursos disponíveis e viáveis para a produção energia na pequena propriedade e sua eficiência, a exemplo da imensa possibilidade oferecida pelos resíduos orgânicos, resultará também numa melhor relação humana com o meio-ambiente.

Torna-se, fundamental o comprometimento mútuo do estado por meio de suas instituições com políticas públicas que garantam crédito, assistência técnica e condições para que os camponeses produzam agroenergia em pequenas unidades de produção, pois cabe ao Estado brasileiro estimular, normatizar e controlar a política de soberania energética em nosso país.

Para isso, são necessários instrumentos, políticas e instituições públicas, que garantam o papel efetivo do Estado para gerir todo o processo de produção e comercialização de agroenergia no Brasil.

Maringá, 08 de Maio de 2008.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Os colaboradores de 1º de maio

E nós do Movimento Sindical, temos feito o papel de tabalhadores ou colaboradores do Capital em nossas relações com os patrões? * Comissão de Conciliação Prévia (intrumento de facilitação da ampliação do capital) * Banco de Horas; * Renda Variável (remuneração por metas); * Festa do Trabalhador 1º de maio (sorteios, jantares, bingos); * Apadrinhamentos políticos e empresariais O pensamento social neoliberal - III - os colaboradores *João Valente Aguiar A comunidade ilusória dos colaboradores. Querendo ofuscar a existência da luta de classes, o pensamento neoliberal fundamenta a tese da comunhão de interesses entre patrões e trabalhadores. Nada de novo neste aspecto, a não ser a recauchutagem formal dos termos utilizados. Se as empresas até à década de 70 diziam que tinham x trabalhadores ou x empregados, com o avanço neoliberal rapidamente o patrão passou a empregador e o trabalhador/empregado/funcionário a colaborador. O capital sempre pregou a comunhão de interesses entre trabalhadores e patrões como forma de amenizar as lutas operárias e, por essa via, tentar captar camadas operárias para o seu lado. O conceito do colaborador é, por um lado, uma extensão quantitativa desse fenómeno. Isto é, o colaborador surge na sequência histórica que mencionei acima. Porém, por outro lado, o conceito do colaborador é uma extensão qualitativa das teses da conciliação e da paz entre as classes. A identificação do trabalhador como um outro relativamente à empresa, a identificação do trabalhador como pertencente a uma categoria distinta da empresa permitiu que a própria cultura operária e a acção política das suas organizações de classe formassem, nuns casos mais noutros menos, a consciência de classe do trabalhador. No caso mais recuado, o trabalhador ao ser considerado pela própria empresa como trabalhador ou empregado sabia de antemão que ele não seria bem igual aos donos da empresa onde trabalhava. Por outro lado, o conceito de empregado chamava a atenção para o facto de que quem controlava (e controla) o recrutamento da mão-de-obra é o patrão. Por isso é que haviam os “empregados”, isto é, indivíduos despossuídos de qualquer recurso de produção a não ser o seu próprio corpo e a sua mente. O conceito de trabalhador era ainda mais subversivo, no sentido em que afirmava quase taxativamente qual a função do indivíduo assalariado na empresa - trabalhar, produzir - ficando para o patrão a função de dirigir o processo de trabalho e, no final deste, arrecadar os lucros obtidos com a venda das mercadorias produzidas, precisamente, pelos que trabalhavam, os trabalhadores. O conceito de colaborador é sui generis porque procura apresentar o pólo antagónico da relação capital/trabalho como se um par complementar se tratasse. Ou seja, o pensamento neoliberal vai ainda mais além do pensamento funcionalista clássico das teses capitalistas comuns. O trabalhador não apenas tem uma função complementar ao do patrão: onde uns seriam detentores de trabalho e outros de capital (maquinaria e dinheiro - como se estes não fossem também eles fruto do… trabalho!). No pensamento neoliberal vai-se ainda mais longe: o trabalhador é um amigo colaborador do patrão. Isto é, o trabalhador mais ganha e mais recebe quanto mais veste a camisola da empresa, quanto mais horas não-pagas oferece à empresa, quanto mais labor, suor e reflexão oferecer à sua segunda família: a empresa. O trabalhador é um da equipe da empresa onde todos são comparsas e se direccionam para o mesmo objectivo: expandir os níveis de lucratividade da empresa. Assim, ao trabalhador fomenta-se a ideia de que há inimigos a abater: os trabalhadores das outras empresas em competição, os trabalhadores em geral que defendem ou ainda têm vínculos laborais estáveis e com salários relativamente bem pagos. Esses são os parasitas que impedem a competitividade da empresa. O trabalhador dentro do conceito do colaborador é, então, uma espécie de mini-empreendedor de si mesmo que tem de ser capaz de vender a sua força de trabalho, a sua força física e as suas capacidades intelectuais (adquiridas ou não) pelo preço mais competitivo (mais baixo) do mercado. Com esta estratégia ideológica (não esqueçamos, sempre apresentada como inevitável e perfeitamente natural), pretende o capital reforçar as teses da comunhão de interesses entre trabalhadores e patrões. As contradições do sistema e os seus efeitos devastadores coloca aos trabalhadores a necessidade da luta. Que surje sempre, independentemente do tempo de duração das receitas ideológicas da classe dominante.