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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Emprego tem, mas ainda falta o salário
Escrito por Denise Neumann - Valor
Em 2009, o Brasil cresceu menos que em 2003, mas o mercado de trabalho terminou o ano com ganhos em relação ao ano anterior. A renda real cresceu 2%, o desemprego ficou quase estável (passou de 7,9% para 8,1%)
No ano de 2003, o Brasil passou por uma recessão e o ano terminou com um crescimento pífio. Naquele ano de Produto Interno Bruto (PIB) de apenas 1%, o desemprego cresceu, o total de trabalhadores com carteira de trabalho assinada nas seis principais regiões metropolitanas caiu dois pontos percentuais (de 45% para 43%, na média do último trimestre de 2002 e 2003) e o rendimento médio real encolheu expressivos 12%. Em 2009, o Brasil cresceu menos que em 2003, mas o mercado de trabalho terminou o ano com ganhos em relação ao ano anterior. A renda real cresceu 2%, o desemprego ficou quase estável (passou de 7,9% para 8,1%) e aumentou o percentual de emprego formal no total de ocupados, chegando a 54,2% do total.
2009 foi um ano bom para o mercado de trabalho apesar da crise porque não foi um ano isolado. Pelo menos desde 2003, a precariedade das relações de trabalho vem diminuindo no país. Entre 2003 e 2009, por exemplo, aumentou de 61,2% para 66,8% o total de ocupados que contribui para a Previdência Social entre os trabalhadores das seis principais regiões metropolitanas do país. No mesmo período e para o mesmo contingente, os trabalhadores com vínculo formal de emprego passaram de 49% para 54,2% do total. Com maior formalidade e maior proteção, em um ano de crise, o desamparo diminui.
Uma das avaliações comuns e óbvias feitas durante 2009 para explicar porque o desemprego não cresceu fortemente (a exemplo do que ocorreu na Europa e nos Estados Unidos) e porque geramos novos empregos foi a força do mercado interno, amparado pelo Bolsa Família, pelo maior número de aposentados recebendo salário mínimo e pela própria correção real dessa remuneração (quase 6% em um ano de crise). O que os dados recém-compilados pelo IBGE acerca do comportamento do mercado de trabalho desde 2003 mostram é que ocorreu, de fato, uma expressiva formalização do mercado de trabalho nos últimos seis anos e, no momento de crise, o país colheu os frutos dessa situação.
Maior formalidade, contudo, não é sinônimo de bom emprego e boa remuneração. No Brasil, os salários ainda são muito baixos, mesmo com a escolaridade crescente da mão de obra. O país terminou 2009 com um saldo de 995 mil novos empregos com carteira de trabalho assinada, segundo dados do Cadastro Geral de Admitidos e Demitidos (Caged). Esse resultado positivo resultou do fechamento líquido (admissões menos demissões) de 586 mil postos de trabalho com salários superiores a dois salários mínimos e de um saldo positivo de 1,578 milhão de empregos com remuneração inferior a dois mínimos.
O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcio Pochmann, coloca em perspectiva os avanços conquistados no mercado de trabalho nos últimos anos, acha que eles foram muito importantes inclusive para ajudar o país a enfrentar a crise econômica, mas ressalta que não é possível perder de vista o perfil de baixíssima remuneração do Brasil. Quando o mesmo saldo de trabalhadores do Caged é olhado pela escolaridade, dos 995 mil novos contratados, 81% tinham o segundo grau completo, 7% estavam cursando o ensino superior e 12% já o completaram. "Até agora, a recuperação do emprego pós-crise foi de baixa remuneração mesmo para pessoas de maior escolaridade", diz Pochmann.
Criar empregos de baixa remuneração (até dois mínimos) não foi uma peculiaridade da crise. Esse também foi perfil dominante de 2007 e meados de 2008, embora no primeiro semestre desse último ano uma novidade tenha aparecido: a diferença entre novas admissões e demissões na faixa salarial de dois a três mínimos foi positiva e foram abertas 38 mil novas vagas com essa remuneração. A crise, portanto, interrompeu uma melhora do perfil salarial do país que estava em curso, provavelmente porque as fortes demissões do início da retração econômica colocaram no mercado de trabalho profissionais qualificados e não dispostos a ficar desempregados.
Como já começaram a aparecer notícias de recontratação de demitidos, inclusive com empresas anunciando em outras cidades que estão admitindo profissionais para atrair demitidos (como em Joinville, Santa Catarina, com as empresas Weg e Busscar), espera-se que, ao longo de 2010, o mercado de trabalho mantenha o dinamismo observado em janeiro (recorde de 181 mil vagas) para criar novos (ou recuperar) empregos e, na sequência, a demanda por mão de obra permita retomar o padrão de melhor remuneração ensaiado antes da crise.
Denise Neumann é editora de Brasil
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