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quinta-feira, 26 de junho de 2008

A verdade e as diatribes

FIDEL CASTRO 23 de Junho de 2008 Sabe-se que nos países industrializados e ricos as pessoas gastam em alimentos, na média, cerca de 25% de sua renda. Os que pertencem a povos que foram mantidos por aqueles no subdesenvolvimento econômico usam para o mesmo fim 80% de sua renda. Muitos passam fome física e sofrem enormes desigualdades sociais. As taxas de desemprego são usualmente duas ou três vezes maiores. A mortalidade infantil se expressa em proporções ainda maiores e a perspectiva de vida se reduz a dois terços da dos países ricos. O sistema é simplesmente genocida. Na Reflexão que escrevi há três dias, afirmei: ‘’Nosso país demonstrou que pode resistir a todas as pressões e ajudar a outros povos’’. Poderia a Europa dizer o mesmo? No informe publicado pela Unesco, ontem, 20 de junho, afirma-se que Cuba ocupa o primeiro lugar entre todos os países da América Latina, tanto em matemática e leitura, na terceira série do ciclo fundamental, como em matemática e ciências, na sexta série, entre mais de 200 mil crianças de 16 países, examinadas ao longo de dois anos; com mais de 100 pontos acima da média regional. É a segunda vez que a Unesco outorga esse reconhecimento a nossa pátria. DIREITOS HUMANOS É de se compreender que nenhum país onde os direitos humanos fossem sistematicamente violados alcançaria tão elevados níveis de conhecimento. Por que se bloqueia Cuba há 50 anos? Porque se calunia Cuba? Por que se criam obstáculos para todo acesso à informação técnica e científica? Por que se deseja conduzir Cuba a um sistema econômico-social insustentável, que não oferece solução para nenhum dos problemas da humanidade? Por algum motivo alguns milhões de cidadãos bolivianos, equatorianos, uruguaios, argentinos, brasileiros, centro-americanos e de outros países da América Latina emigraram para a Europa, onde agora poderão ser brutalmente devolvidos a seus países de origem, caso não cumpram todos os requisitos exigidos pela nova lei anti-imigrantes. O que é pior: um número várias vezes maior de cidadãos do México, América central e do Sul emigrou para os Estados Unidos, cruzando fronteiras, muros e mares, sem documentação alguma ou Lei de Ajuste que os privilegie ou estimule a emigrar, e dos quais mais de 500 morrem a cada ano. Milhares de outros perecem anualmente no México e América Central, vítimas do crime organizado, de disputas pelo mercado de drogas dos EUA, cujo consumo as mais altas autoridades daquele país não podem nem querem combater. O subprocurador José Luis Santiago Vasconcelos declarou que o tráfico de pessoas é a segunda atividade ilegal mais lucrativa. Quando se trata de cubanos, os lucros são comparáveis aos do narcotráfico: ‘’Cobram até US$ 10 mil por indivíduo’’, informou. O dinheiro procede dos EUA. Penso que o México não pode se converter em paraíso do tráfico de imigrantes quando até os próprios guardas costeiros americanos interceptam e devolvem as pessoas capturadas no mar. O México não tem a obrigação de permitir que lhes imponham uma versão da política de ‘’pés secos’’ e ‘’pés molhados’’. Em Cuba não existe crime organizado, nem há impunidade para o tráfico de drogas. Este é combatido com eficácia e sem ensangüentar a nação. O governo dos EUA só não o reconhece por cinismo. Não escrevi nenhuma diatribe contra a Europa, simplesmente disse a verdade. Se ela ofende, não é culpa minha. Para poupar espaço, sequer mencioneis na Reflexão de ontem a exportação de armas, os gastos militares, as aventuras bélicas da Otan, às quais se agregam os vôos secretos e a cumplicidade européia para com as torturas praticadas pelo governo dos EUA. Ignoro se alguém foi preso, em qualquer ponto de Cuba, por violar alguma lei. Isso nada tem a ver com a Reflexão, que solicitei que fosse divulgada apenas por Cubadebate. Relacionar as duas coisas é arbitrário. Usarei este site na internet no ritmo que julgar pertinente. Não abusarei da paciência de ninguém. E não cobro um centavo, meu trabalho é gratuito. Não sou nem nunca serei chefe de facção ou grupo. Não se pode deduzir, portanto, que existam pugnas dentro do partido. Escrevo porque continuo lutando e faço-o em nome das convicções que defendi em toda a minha vida.

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