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sexta-feira, 17 de outubro de 2008
A bancária algemada
Alcy Cheuiche*
O Sindicato dos Bancários de Porto Alegre está completando 75 anos. Três gerações de luta, desde sua fundação em 1933. Nascido sob a égide dos revolucionários de 30, tem uma bela história para contar. Alguns dos seus ex-presidentes, como Olívio Dutra e José Fortunatti, depois de considerados subversivos durante a ditadura, fizeram carreira na política partidária, com muito destaque, para a honra dos bancários. Mas não esquecem das coações que sofreram, das prisões arbitrárias, das algemas nos pulsos.
Coisas do tempo da ditadura, dirão alguns. Pois não é bem assim. Nossa democracia, como no governo Geisel, continua relativa. E as algemas foram usadas, ainda a semana passada, para humilhar uma líder bancária gaúcha.
Não vou dizer seu nome porque não lhe pedi autorização. Mas o fato pode ser comprovado junto ao Sindbancários, ali na Rua da Ladeira, na hora que o leitor desejar. Também a Brigada (que pena, uma corporação gloriosa) registrou a lamentável ocorrência, uma vez que a bancária foi levada à força para um posto policial.
Segundo a versão da vítima, os fatos foram os seguintes. A Diretora do Sindbancários foi chamada à agência do Banco Real, na Borges de Medeiros, porque uma advogada do banco queria impedir a greve por conta de uma liminar da 21ª Vara do Trabalho. A sindicalista mostrou outra liminar da 5ª Vara do Trabalho, garantindo o direito de greve. Discutiram, a advogada exigindo que os grevistas saíssem da frente da agência e a diretora alegando que estavam exercendo um direito legítimo, ordeiro e pacífico, garantido pela Constituição Federal.
Foi quando chegaram quatro brigadianos, três homens e uma mulher. Foi dada voz de prisão para a Diretora do Sindbancários e, pasmem os leitores, a brigadiana sacou de suas algemas e fechou-as nos pulsos da bancária. Uma mulher desarmada, cuja periculosidade residia apenas em exercer o direito de greve, jamais deveria ter sido presa, muito menos, algemada.
E não ficou por aí. A bancária foi conduzida a pé, como um assaltante de rua, pela Borges de Medeiros, até o Posto da Brigada no Largo Glênio Peres. No local estavam alguns verdadeiros delinqüentes, a maioria sem algemas.
A Diretora sindical ficou presa por duas horas e foi lavrado um termo circunstanciado em que figurou como ré e o banco como vítima.
Quando da prisão do banqueiro Daniel Dantas, muitos juristas, a começar pelo Presidente do Supremo Tribunal, Gilmar Mendes, condenaram o uso desnecessário de algemas. E agora? São ofensivas para a dignidade do banqueiro e justificadas para a bancária?
Pobre democracia brasileira. Acredite quem quiser.
*Escritor
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