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sábado, 27 de novembro de 2010

5º Fórum Social Pan-Amazônico

Professora da Universidade do Pará critica modelo energético brasileiro e cobra ampliação da participação da CUT no debate ambiental

Escrito por: Luiz Carvalho



Pantoja, Carmen Foro (Sec. Meio Ambiente da CUT), Miriam, Raimunda, Manoel Imbiriba (Dir. Fetagri) e o deputado estadual José Maria na mesa de abertura


Pantoja, Carmen Foro (Sec. Meio Ambiente da CUT), Miriam, Raimunda, Manoel Imbiriba (Dir. Fetagri) e o deputado estadual José Maria na mesa de abertura
 












Em seminário que a Central Única dos Trabalhadores promoveu durante o primeiro dia do 5º Fórum Social Pan-Amazônico, em Santarém, no Pará, a professora e doutora pela Universidade Pública do Pará, Raimunda Monteiro, criticou o modelo de construção de hidrelétricas e de exploração de minerais no Brasil.

Durante o debate no período da tarde, que teve como tema a ação sindical nos impactos de grandes projetos da Amazônia, ela também apontou a necessidade da CUT ter uma intervenção nacional mais ampla em relação a essas questões.  


No início da intervenção, Raimunda afirmou que o governo Lula deveria ter discutido mais com a sociedade o plano hidrelétrico. “Hoje, há um uso exaustivo das barragens e quem pauta isso são os empreiteiros articulados com empresários de outros setores como ferro, turbinas e asfalto. Isso ocorre sem qualquer resistência dos gestores do setor elétrico, que por uma questão de governabilidade, foram mantidos e são os mesmos do governo de FHC (Fernando Henrique Cardoso)”, disse.

Para ela, a resposta para o aumento da demanda por energia, resultado da melhoria do poder econômico da população brasileira e da consequente ampliação do acesso ao consumo, está equivocada. “Não estamos investindo para explorar fontes alternativas”, comenta.

Custo alto
Utilizando como exemplo a usina de Belo Monte, ela citou os impactos que um grande projeto como esse causam. A professora ressaltou que o rio Xingúa terá a capacidade reduzida em 100 km, 20 mil famílias serão desalojadas e outras 100 mil ainda não tem definido para onde irão, já que estão fora da responsabilidade direta dos responsáveis pelo projeto.

Segundo Raimunda, a internacionalização do subsolo brasileiro é outro ponto estratégico que demonstra fragilidade .”Todos os estoques da bacia de bauxita na Amazônia estão mapeados e os direitos nas mãos de grandes multinacionais do Canadá e dos EUA. Há um projeto no Congresso para regular a exploração mineral e devemos intervir nessa discussão”, definiu.

Educação e atuação cutista ̶
Ela comentou também a necessidade de uma intervenção dos movimentos sociais para mudar os princípios que norteiam a produção de conteúdo nas universidades. “Devemos pautar a pesquisa que os universitários farão, cobrar para que elaborem soluções voltadas a alternativas de produção de energia. Precisamos inverter as políticas de ciências e tecnologia na formação de nossos engenheiros, porque os que formamos hoje só sabem fazer barragem”, critica.

A professora acredita ainda que o Brasil é a próxima fronteira de privatização das águas e, por isso, as forças desenvolvimentistas precisam lutar pela criação de um comitê de bacias que discuta ações com o conjunto da sociedade.

Nesse processo, ela avalia que a CUT deve estar mais presente. “Não é possível que a hidrelétrica de Tapajós, com todos os interesses econômicos nela envolvidos, enfrente a resistência de um sindicato de trabalhadores rurais de Itaituba. Com qual capital crítico e de formação esses companheiros vão interpelar a Engevix, a Odebrecht? Tem que haver uma articulação mais ampla da CUT.”

Avanços no governo Lula e Brasil protagonista

Apesar das críticas, Raimunda destaca que o governo do presidente Lula avançou em questões como o combate ao desmatamento. “O macrozoneamento da Amazônia foi uma grande ação porque significou enfrenta forças atrasadas agrárias. Temos o Amapá e o Acre organizados e se não fosse assim, a apropriação ilegal de terras por parte de grileiros já teria tomado conta. O projeto de desenvolvimento sustentável, por meio da Lei de Gestão de Florestas Públicas, também permitiu o investimento local sem que isso atacasse os povos originais da terra”, explica.

Por fim, ela ressalta que o Brasil tem a chance de crescer sem deixar um fardo para as próximas gerações. “Chegamos a um ponto em que lideramos debates avançados no mundo sobre como gerenciar economias, como distribuir renda, como fazer políticas públicas. Também temos condição de liderar um debate sobre como produzir energia limpa e não às custas da destruição de outro patrimônio que é a a biodiversidade, a floresta e as águas. Temos que continuar liderando um novo padrão de desenvolvimento, mais distributivo e com maior cooperação aos vizinhos mais pobres inaugurado pelo governo Lula e para isso não devemos adotar um modelo atrasado”, define.


Desenvolvimento realmente sustentável
No período da manhã, a CUT promoveu uma oficina que tratou do projeto “Sindicalismo e Meio Ambiente”, organizado pela entidade na região.

Presidente da Central no Pará, Miriam Andrade, afirmou que o programa mapeou com a comunidade os principais problemas socioambientais.
A dirigente citou as lutas que o movimento sindical deve bancar para garantir o desenvolvimento sustentável. “Uma grande quantidade de empresas estão vindo para nosso Estado e iremos cobrar do governo que qualifique os trabalhadores para evitar o desemprego e a pobreza quando o serviço terminar. Assim como também iremos cobrar a criação de moradias, aumento da oferta de saneamento básico, educação, segurança pública”

Emprego x meio ambiente

Membro da direção da direção da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Pará (Fetagri) e deputado estadual recém-eleito José Maria (PT-PA) comentou o caso da instalação da empresa Alcoa em Juruti, também no Pará, para a extração de minério.

No município, grande parte das pessoas vivia da agricultura de sub existência e enxergavam o empreendimento como uma grande oportunidade de emprego e renda. “A proximidade do movimento sindical com as comunidades permitiu que iniciássemos uma trabalho de conscientização e forcássemos a abertura do diálogo com a empresa. O resultado foi a criação de condições para iniciar o processo de licenciamento ambiental, diminuindo os impactos e criando uma agenda positiva em parceria com o poder público para construção de escolas, estradas, além de reforma e construção de hospitais, beneficiando cerca de 200 famílias.”

Até segunda –
A 5ª edição do Fórum Social Pan-Amazônico segue até o dia 29 de novembro. Nesta sábado (27), ocorrem as atividades gestionadas com base nos quatro temas principais do evento: defesa da mãe terra; poder para o povo da pan-Amazônia; direitos humanos, econômicos, sociais, culturais e ambientais e culturas, comunicação e educação popular.

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