A escolha de Dunga como técnico da seleção brasileira foi feita rapidamente, quando ainda estava fresca a vergonhosa derrota para a França, quando um Zidane prestes a despedir-se do futebol, deu um lindo baile no time brasileiro. Neste, Parreira quis surfar no sucesso da copa anterior e manteve um time envelhecido – de que os superados Cafu e Roberto Carlos eram as expressões mais claras, laterais já sem capacidade de apoio e de volta para marcar. O segredo estava no quarteto Ronaldo, Ronaldinho, Adriano e Kaká. Bastaria que dois jogassem bem, para que estivesse, garantidas nossas vitórias.
O time naufragou desde o começo, nunca jogou bem, se esperava sempre que finalmente o time realizasse o futebol que potencialmente possuíam, o que nunca aconteceu. A barriga de Ronaldo – que não se deu ao trabalho de emagrecer nem umas gramas -, a falta de vontade de jogar de Ronaldinho, foram os símbolos daquele fracasso.
Nem bem terminou o jogo – em que Roberto Carlos foi crucificado, com razão, ao estar arrumando as meias, deixando Henri livre para marcar, num resultado magro pelo domínio total dos franceses -, a CBF quis apagar os ecos do fiasco e nomeou Dunga encima do balanço consensual – e fácil – da imprensa: tinha faltado raça. Foram buscar quem tinha significado a raça em estado puro, nas seleções anteriores, mesmo se nunca tivesse sido técnico: Dunga.
Uma nomeação assentada em uma ilusão, que segue sendo repetida: o Brasil tem o melhor futebol do mundo, revela craques como ninguém, a todo momento. O quarteto não teve disposição de jogar – Kaka apenas se esforçou, Robinho entrava no final, -, o diagnóstico quase foi de que fomos derrotados por excesso de craques. Zidane passeou pelo Brasil, dando chapéus a torto e a direito, diante de um time incapaz de qualquer genialidade. Mas a dose de raça viria em dose dupla e isso bastaria para voltássemos a ter o melhor time do mundo.
Dunga assumiu como se esperava, com o discurso da linha dura do “orgulho” que todo jogador deveria ter de estar na seleção – no estilo da “pátria de chuteiras”, da disciplina e da entrega à seleção. Sabia-se se Ronaldo estaria fora – pela falta de disposição para colocar-se em forma – e Ronaldinho estaria a perigo, pela fama de “baladeiro”. Adriano teria sua chance, assim como Robinho, enquanto Kaká seria o modelo de comportamento do jogado da Era Dunga – agora como técnico.
Mas Dunga impôs a disciplina também em outro plano. Na seleção de Parreira, a Globo deitava e rolava. Chegou a montar um estúdio inteiro na concentração, em pleno Campeonato Mundial e transmitia, a seu bel prazer, todo o cotidiano dos jogadores, desde que se levantavam até que dormissem. Era uma festa para a Globo.
No mesmo sentido do espírito que buscou impor, Dunga deixou a imprensa fora das concentrações, liberou apenas as entrevistas protocolares e, conforme os resultados não chegavam – o Brasil chegou a estar mal no começo das eliminatórias – e Dunga era muito criticado, este reagia com dureza contra a imprensa, no estilo rude da sua personalidade tosca.
Aos poucos a seleção foi se acertando, as vitórias vieram e isso consolidou em Dunga a certeza de seu comportamento era o correto. As arbitrariedades táticas – o jogo monótono, sem criatividade – e de convocação – privilegiando os brucutus no meio de campo, sem dar chance a jogadores eminentemente técnicos, como Alex, Ganso, Neimar, Hernanes, foram sendo referendadas, conforme o Brasil assumiu o primeiro lugar nas eliminatórias, ganhou a Copa das Confederações, ganhando da Argentina e, em amistosos também, de outros times ranqueados na Fifa – como a Itália e Portugal.
O principal problema que o Brasil arrastou até o começo da Copa foi a falta de forma física e técnica de dois dos seus jogadores mais importantes – Kaká e Luis Fabiano que, contundidos nos seus clubes, tinham jogado pouco nos meses anteriores ao inicio da Copa e chegaram à convocação ainda se recuperando. Mas havia outro problema: o Brasil não é mais o celeiro de craques cantado em prosa e verso no passado. Os jogadorres do Santos são ainda grandes promessas, assim como Hernanes, enquanto a Argentina revelou e consolidou uma geração de craques superior à nossa, incluído um fora de série - Messi – que nós já não temos desde o declínio de Ronaldinho. (Messi já era o melhor do mundo há vários anos, quando Kaká e Cristiano Ronaldo ganharam esse prêmio sem merecê-lo.)
Mas o conflito que domina o clima da seleção, até aqui , é outro. As empresas jornalísticas nos saturam de Copa do Mundo vários meses antes, mandam equipes descomunais de jornalistas, se valem de patrocínios milionários e precisam encher seus horários com matérias que deveriam varias de um jogador escovando os dentes até dormindo de pijama. Mas Dunga deixou, como é correto fazer, a imprensa do lado de fora da concentração, para não perturbar o trabalho – inclujindo os agentes, que em outras seleções atuavam ali dentro, assesiando os jogadores. Isso causou mal estas emissoras e serviu como tema de intermináveis e modorrentas mesas redondas, entre comentários táticos sobre a Nova Zelândia e a Sérvia. Principalmente da TV Globo, acostumada a todos os privilégios, que se sente ultrajada ao ser tratada como as outras, sem o acesso privilegiado aos jogadores e à concentração da seleção.
Independente de que o Brasil seja campeão ou não, se siga melhorando seu futebol ou estacione no nível atual, Dunga tem razão, mais além das truculências verbais, que revelam uma personalidade frágil, sem auto controle, pela qual se deve temer em situações de maior tensão (imaginem se, em jogo eliminatório, o Brasil começa perdendo, que topo de segurança um técnico assim vai passar no vestiário, no intervalo, só para imaginar uma situação perfeitamente possível, em que os jogadores tem que ter no banco alguém seguro, controlado, o que certamente Dunga não é.)
Quando o time joga mal, se descarrega nele uma carga desproporcional de críticas (“Treino secreto para isso?”, berrava o caderno da Copa do Globo depois da magra vitória contra a Coréia do Norte, numa vingacinha barata.) Ou, mesmo quando se ganha e se joga bem, se carrega nas tintas ao Dunga não se dar conta que Kaká estava descontrolado e prestes a ser expulso no jogo contra a Costa do Marfim, não interessa se justamente ou não, porque sua visível irritação o deixava na zona de risco de aceitar provocações.
A Globo, como sempre, com sua prepotência, granjeia a antipatia de todos (de que a campanha global contra o Galvão é uma expressão criativa, depois daqueles palavrões com que o Maracanã já o havia brindado: “Tomá no c. Galvão, tomá no c. Galvão”, impossíveis de não serem ouvidos por todos.
Tomara que o Brasil siga melhorando e ganhe a Copa. Pela alegria que trará par ao povo brasileiro. Mas que não se consagre o estilo grosseiro do Dunga. Mas se o Brasil perder, a Globo vai estraçalhá-lo, com um ódio similar ao que tem ao governo Lula – ambos expressões distintas dos limites impostos à Globo, que impotente tem que assistir sucessos que a contrarivam.
por Emir Sader
O time naufragou desde o começo, nunca jogou bem, se esperava sempre que finalmente o time realizasse o futebol que potencialmente possuíam, o que nunca aconteceu. A barriga de Ronaldo – que não se deu ao trabalho de emagrecer nem umas gramas -, a falta de vontade de jogar de Ronaldinho, foram os símbolos daquele fracasso.
Nem bem terminou o jogo – em que Roberto Carlos foi crucificado, com razão, ao estar arrumando as meias, deixando Henri livre para marcar, num resultado magro pelo domínio total dos franceses -, a CBF quis apagar os ecos do fiasco e nomeou Dunga encima do balanço consensual – e fácil – da imprensa: tinha faltado raça. Foram buscar quem tinha significado a raça em estado puro, nas seleções anteriores, mesmo se nunca tivesse sido técnico: Dunga.
Uma nomeação assentada em uma ilusão, que segue sendo repetida: o Brasil tem o melhor futebol do mundo, revela craques como ninguém, a todo momento. O quarteto não teve disposição de jogar – Kaka apenas se esforçou, Robinho entrava no final, -, o diagnóstico quase foi de que fomos derrotados por excesso de craques. Zidane passeou pelo Brasil, dando chapéus a torto e a direito, diante de um time incapaz de qualquer genialidade. Mas a dose de raça viria em dose dupla e isso bastaria para voltássemos a ter o melhor time do mundo.
Dunga assumiu como se esperava, com o discurso da linha dura do “orgulho” que todo jogador deveria ter de estar na seleção – no estilo da “pátria de chuteiras”, da disciplina e da entrega à seleção. Sabia-se se Ronaldo estaria fora – pela falta de disposição para colocar-se em forma – e Ronaldinho estaria a perigo, pela fama de “baladeiro”. Adriano teria sua chance, assim como Robinho, enquanto Kaká seria o modelo de comportamento do jogado da Era Dunga – agora como técnico.
Mas Dunga impôs a disciplina também em outro plano. Na seleção de Parreira, a Globo deitava e rolava. Chegou a montar um estúdio inteiro na concentração, em pleno Campeonato Mundial e transmitia, a seu bel prazer, todo o cotidiano dos jogadores, desde que se levantavam até que dormissem. Era uma festa para a Globo.
No mesmo sentido do espírito que buscou impor, Dunga deixou a imprensa fora das concentrações, liberou apenas as entrevistas protocolares e, conforme os resultados não chegavam – o Brasil chegou a estar mal no começo das eliminatórias – e Dunga era muito criticado, este reagia com dureza contra a imprensa, no estilo rude da sua personalidade tosca.
Aos poucos a seleção foi se acertando, as vitórias vieram e isso consolidou em Dunga a certeza de seu comportamento era o correto. As arbitrariedades táticas – o jogo monótono, sem criatividade – e de convocação – privilegiando os brucutus no meio de campo, sem dar chance a jogadores eminentemente técnicos, como Alex, Ganso, Neimar, Hernanes, foram sendo referendadas, conforme o Brasil assumiu o primeiro lugar nas eliminatórias, ganhou a Copa das Confederações, ganhando da Argentina e, em amistosos também, de outros times ranqueados na Fifa – como a Itália e Portugal.
O principal problema que o Brasil arrastou até o começo da Copa foi a falta de forma física e técnica de dois dos seus jogadores mais importantes – Kaká e Luis Fabiano que, contundidos nos seus clubes, tinham jogado pouco nos meses anteriores ao inicio da Copa e chegaram à convocação ainda se recuperando. Mas havia outro problema: o Brasil não é mais o celeiro de craques cantado em prosa e verso no passado. Os jogadorres do Santos são ainda grandes promessas, assim como Hernanes, enquanto a Argentina revelou e consolidou uma geração de craques superior à nossa, incluído um fora de série - Messi – que nós já não temos desde o declínio de Ronaldinho. (Messi já era o melhor do mundo há vários anos, quando Kaká e Cristiano Ronaldo ganharam esse prêmio sem merecê-lo.)
Mas o conflito que domina o clima da seleção, até aqui , é outro. As empresas jornalísticas nos saturam de Copa do Mundo vários meses antes, mandam equipes descomunais de jornalistas, se valem de patrocínios milionários e precisam encher seus horários com matérias que deveriam varias de um jogador escovando os dentes até dormindo de pijama. Mas Dunga deixou, como é correto fazer, a imprensa do lado de fora da concentração, para não perturbar o trabalho – inclujindo os agentes, que em outras seleções atuavam ali dentro, assesiando os jogadores. Isso causou mal estas emissoras e serviu como tema de intermináveis e modorrentas mesas redondas, entre comentários táticos sobre a Nova Zelândia e a Sérvia. Principalmente da TV Globo, acostumada a todos os privilégios, que se sente ultrajada ao ser tratada como as outras, sem o acesso privilegiado aos jogadores e à concentração da seleção.
Independente de que o Brasil seja campeão ou não, se siga melhorando seu futebol ou estacione no nível atual, Dunga tem razão, mais além das truculências verbais, que revelam uma personalidade frágil, sem auto controle, pela qual se deve temer em situações de maior tensão (imaginem se, em jogo eliminatório, o Brasil começa perdendo, que topo de segurança um técnico assim vai passar no vestiário, no intervalo, só para imaginar uma situação perfeitamente possível, em que os jogadores tem que ter no banco alguém seguro, controlado, o que certamente Dunga não é.)
Quando o time joga mal, se descarrega nele uma carga desproporcional de críticas (“Treino secreto para isso?”, berrava o caderno da Copa do Globo depois da magra vitória contra a Coréia do Norte, numa vingacinha barata.) Ou, mesmo quando se ganha e se joga bem, se carrega nas tintas ao Dunga não se dar conta que Kaká estava descontrolado e prestes a ser expulso no jogo contra a Costa do Marfim, não interessa se justamente ou não, porque sua visível irritação o deixava na zona de risco de aceitar provocações.
A Globo, como sempre, com sua prepotência, granjeia a antipatia de todos (de que a campanha global contra o Galvão é uma expressão criativa, depois daqueles palavrões com que o Maracanã já o havia brindado: “Tomá no c. Galvão, tomá no c. Galvão”, impossíveis de não serem ouvidos por todos.
Tomara que o Brasil siga melhorando e ganhe a Copa. Pela alegria que trará par ao povo brasileiro. Mas que não se consagre o estilo grosseiro do Dunga. Mas se o Brasil perder, a Globo vai estraçalhá-lo, com um ódio similar ao que tem ao governo Lula – ambos expressões distintas dos limites impostos à Globo, que impotente tem que assistir sucessos que a contrarivam.
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