Cada vez mais presente no meio acadêmico, o intercâmbio estudantil é um diferencial para os estudantes que o realizam.
Estar numa outra cultura, conhecê-la e entendê-la, sem ter sua família ou seus amigos por perto, conhecer uma realidade que não é a que você está acostumado, se adaptar a novos padrões e costumes, fazer amigos que terá que deixar para trás, lidar com situações adversas e pessoas muito diferentes de você, aprender a "se virar" sozinho e, principalmente, ser vítima de preconceito enquanto não aprender a ser parte dessa outra cultura. Essas e muitas outras situações são enfrentadas por aqueles que se aventuram pelo mundo e participam de intercâmbio. A necessidade de obter um diferencial diante do concorrido mercado de trabalho atual vem fazendo os estudantes procurar com mais empenho oportunidades de intercâmbio, pois é uma alternativa de crescer profissionalmente. A maioria das empresas leva em consideração uma experiência no exterior durante o processo de seleção para uma vaga.
A experiência de viver em outro país proporciona ao profissional conhecer hábitos diferentes, abrindo uma nova perspectiva, com isso o intercambista precisa se adaptar a um novo ambiente, enfrentar desafios e crescer, como pessoa e profissional, além de estar disposto a se transformar, a desafiar sua visão de mundo.
O intercâmbio oportuniza a produção acadêmica em nível internacional, ampliando o conhecimento da atividade de comunicação. Os graduandos em comunicação podem favorecer-se do intercâmbio através da cultura e da política vivenciadas em outro país, e isso servirá de auxílio no aperfeiçoamento profissional.
Foi isso que levou o acadêmico do 5º semestre de jornalismo do Centro de Educação Superior Norte do RS – Cesnors/UFSM, Anderson Malagutti, 21, a investir e lutar pelo intercâmbio. Anderson foi selecionado para participar do intercâmbio, pelo Curso de Comunicação Social na Universidade da República, no Uruguai.
- O intercâmbio foi um sonho desde que eu entrei na faculdade. É um sonho que vou realizar. Para mim e para minha família foi uma notícia excelente, maravilhosa. A minha expectativa é ir pra lá e aproveitar ao máximo, aproveitar tudo, tudo mesmo. Aproveitar o que eu puder pra acrescentar na minha vida acadêmica e profissional.
Para o acadêmico, quando se tem realmente vontade e luta pelo que se quer conquistar, as coisas acontecem. - Minha vontade de conseguir esse intercâmbio e sinceridade foram essenciais. Deixei bem claro para as pessoas que estavam me entrevistando porque queria passar. Acredito que estou colhendo algo que venho semeando a tempo. Minha dedicação naquilo que quero na minha vida. Quem me conhece sabe que sempre busco o bem das pessoas e aquilo que faço, faço pra valer. Esse é um dos valores que acredito que tenho na minha vida.
Apesar de não ser fluente no espanhol, Anderson tem noções básicas da língua e pretende fazer um curso intensivo antes de ir para o Uruguai. - Acredito que vou aprender de verdade o espanhol só quando estiver lá e poder trocar esse conhecimento.
Aos que possuem o mesmo sonho de conseguir um intercâmbio, Anderson destaca que nada acontece por acaso. – Deve-se primeiro ter força de vontade pra conseguir alcançar seus objetivos. O que acontece na sua vida é fruto do seu esforço. Assim como eu acredito que estou colhendo uma parte desses frutos, quem tiver também essa dedicação, pode alcançar seus objetivos. Sempre diga a verdade àqueles que querem ouvir de você o que você quer. Isso é fundamental. De resto, é também um pouco de sorte.
As instituições de ensino possuem um papel importante na conscientização do aluno de que é importante a participação em programas de intercâmbio. Essa conscientização é importante inclusive para a universidade, pois estes programas formam profissionais com conhecimento de novas culturas e, que possuem mentalidade mais aberta.
Nesse sentido, a estudante do curso de Farmácia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí, Cristine Scheuer, 21, está fazendo, desde fevereiro deste ano, intercâmbio pela Universidade do Porto – UP, na cidade de Porto, em Portugal.
- O intercâmbio é de um semestre letivo e, como fiz matérias do primeiro, segundo, terceiro e quarto anos, cursei disciplinas que poderei aproveitar no Brasil, não precisando cursar novamente na minha universidade de origem.
Cristine conseguiu esse intercâmbio por meio da parceria firmada entre a Unijuí e a Universidade do Porto, de forma que não precisa pagar mensalidade para cursar as disciplinas que quiser, possuindo apenas gastos com a estadia.
- Esse intercâmbio será um diferencial na minha formação acadêmica, onde posso aprender os procedimentos usados nas diversas áreas da farmácia por parte de uma instituição europeia. Além disso, estou aumentando o meu conhecimento histórico-cultural, pois aqui há boas condições de transporte econômico para viajar pelos diversos países europeus. Dessa forma posso expandir o meu conhecimento sobre esse novo mundo, tradições e culturas. Ainda, o intercâmbio está abrindo portas para que eu possa fazer estágios e pesquisas que antes eu não conseguia.
Cristine na Universidade do Porto, uma instiuição de ensino superior portuguesa fundada em 1911
A acadêmica coloca que apesar da cultura portuguesa ser diferente do que no Brasil, a adaptação não foi difícil, pois há coisas que se assemelham. A língua também foi um fator que necessitou adequações, porque, apesar de ser português, existem palavras e expressões divergentes.
- Portugal é um país fascinante, onde encontramos uma mistura do antigo e histórico com o moderno e atual, onde cada rua, cada esquina possui um monumento, escultura, construção, para observar e registrar em nossas fotografias.
Mas apesar de todos os benefícios de um estudo no exterior existem diversos desafios.
- O mais difícil para mim foi a falta de conhecimento da língua inglesa, a saudade da família, o preconceito por parte de algumas pessoas mal instruídas sobre a mulher brasileira e sua fama de prostituta, morar e dividir quarto, casa e rotina com pessoas de diferentes personalidades, de forma que há conflitos de interesses.
- Mas, apesar das dificuldades, foi e está sendo muito proveitoso esse intercâmbio, e eu aconselho-o para todos, pois temos, aqui em Portugal, a facilidade da língua e o custo de vida é mais barato que em outro país da Europa. Além disso, sinto-me hoje uma pessoa mais culta e sensata. Entendo melhor a história e o motivo de vários acontecimentos. Meus conhecimentos acadêmicos e profissionais aumentaram e certamente isso será importantíssimo para o meu currículo.
Até pouco tempo atrás, o intercâmbio era elitista e parecia inacessível ao estudante sem grandes posses. Hoje, porém, as grandes transformações do mercado de educação internacional tornaram possível adquirir experiência intercultural, por meio da introdução de programas como os estágios e o trabalho remunerado e as bolsas estudantis.
É o caso do graduado em engenharia elétrica e computação pela Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, Taimur Gibran Rabuske Kuntz, 23, o qual foi bolsista e pesquisador do GIST (Gwangju Institute of Science and Technology), localizado na cidade de Gwangju, sudoeste da Coreia do Sul, no período de agosto a dezembro de 2009. Atualmente, o acadêmico está fazendo mestrado “sanduíche” pela UFSM/Universidade Técnica de Lisboa, ou seja, um ano o estudo é em Portugal e, no outro, no Brasil.
Taimur enviou currículo para o instituto e, aceito, recebeu passagem área, estadia, refeições e uma bolsa razoável. - Não era uma fortuna, mas pude conhecer o país inteiro com ela.
- Minha caminhada acadêmica voltou-se para a pesquisa no campo da microeletrônica, uma ciência recente, sobretudo no Brasil, mas que vem recebendo bastante atenção dada sua condição estratégica e vital para a autonomia tecnológica do país. Trata-se da construção de dispositivos eletrônicos em escalas nanométricas, onde cada um dos componentes tem o comprimento de um milésimo do diâmetro do cabelo humano.
O mercado de trabalho na área da microeletrônica é um dos mercados que mais movimenta dinheiro no mundo hoje. E o Brasil não pode ficar parado, sem pegar uma fatia desse bolo. O que acontece até agora é que o Brasil exporta silício (matéria-prima dos circuitos integrados) por alguns centavos por tonelada e importa os chips, algumas vezes por centenas de dólares por um circuito do tamanho de uma moeda de centavo. O que os países desenvolvidos fazem é agregar valor ao silício. Para isso precisa-se de conhecimento e, é legal que o país invista na formação de pessoal, muitas vezes fora do Brasil.
Taimur visita templo da arquitetura tradicional coreana, em Seul
- Esse estágio foi muito interessante, porque abriu um bom leque de contatos. As experiências adquiridas não são só profissionais, mas pessoais. Faz-se um monte de amigos, alguns deles não esquece-se nunca mais.
- Não é difícil adaptar-se a novas culturas, quando se viaja com a cabeça aberta, esperando encontrar algo diferente do teu mundo. Eu perdi um pouco de peso, por causa da comida apimentada, passei por umas situações constrangedoras por causa dos costumes diferentes, mas foi tudo ótimo pro meu crescimento pessoal.
Para Taimur, uma das coisas mais diferenciadas na Coreia é o cardápio. - Come-se desde insetos até cachorros. Eu tentei provar de tudo e, só não consegui experimentar carne de cachorro porque tenho muito apego pelos caninos. Mas uma experiência legal foi ter comido polvo vivo. Dizem que é um tanto comum um tentáculo sair pelo nariz do degustador, se este não for muito experiente. Felizmente não tive este revés.
A escrita coreana não é feita com caracteres latinos, ou romanos, como no ocidente, usa-se o hangul, um alfabeto silábico, diferente dos usados no Japão e na China. - Nessas circunstâncias, cada pequena conquista é legal. Lembro-me de quando consegui pegar na mão uma caixinha no supermercado e ler "ca-pu-ti-no", depois de algumas aulas de coreano. Eu comecei a rir sozinho, porque já fazia mais de um mês que eu queria tomar café e não conseguia comprar.
Frisando a importância de fazer um intercâmbio, de conhecer outros lugares, outras culturas, ampliar os horizontes, Taimur cita Amir Klynk, o famoso viajante marítimo, do seu livro “Mar sem fim: 360 ̊ ao redor da Antártica”.
- “Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver.”
Vanessa Haas / Da Hora
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