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quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Com Obama, pior não fica

Nos EUA só não tem golpe de Estado porque lá não existe embaixada dos EUA para conspirar. Walter Rodrigues Com Obama, pior não fica Os Estados Unidos são uma nação imperialista, a maior e mais poderosa que já existiu. Não apenas um imperialismo como outro qualquer, mas um imperialismo, digamos, “essencial”. A guerra, a conquista, a “marcha para o Oeste”, morram quantos índios for necessário (porque os índios querem matar os conquistadores e impedir que realizem seu “destino manifesto”), impregna o discurso autojustificativo de sucessivas gerações, não apenas de lideres políticos e militares, mas também de pessoas “comuns”. America for americans, proclamou a doutrina Monroe em 1832, quando se tratava de competir com o imperialismo europeu. Entenda-se: América para os americanos do Norte, os yankees. Quem o disse a primeira vez não foi algum índo iberoamericano ou caribenho desconfiado, mas sim um gringo tão ilustre quanto debochado, Mr. Evarts, ex-secretário de Estado (ministro do Exterior), citado pelo brasileiro Eduardo Prado num livro mais que centenário, A Ilusão Americana, de 1894. Há sempre alguém ameaçando a “segurança nacional” dos EUA: índios, mexicanos, espanhóis, japoneses, alemães, cubanos, vietnamitas, panamenhos, granadenses, iraquianos, venezuelanos, bolivianos, iranianos e até os marcianos, como soube demonstrá-lo Orson Wells no Dia das Bruxas de 1938. Ninguém é tão pequeno que não mereça ser bombardeado, desde que tenha ouro, petróleo ou qualquer outra riqueza que por direito tenha que ser dividida com o Império. Nem ninguém tão fraco que não justifique uma guerra preventiva. Nem um país tão pobre quanto o Haiti e ou Granada está livre de ser visitado pelos marines. Kennedy mandou bater os tambores da guerra nuclear por causa dos mísseis soviéticos em Cuba, embora achasse natural a convivência dos russos com mísseis dos EUA na Alemanha e na Turquia. Seu sucessor, Johnson, querendo fabricar aviões cada vez mais letais e invulneráveis, argumentou assim: “Ou temos uma força aérea poderosa, ou qualquer anão amarelo com uma faca no bolso pode nos derrotar”. Os eternos vencedores receiam como ninguém seus inimigos reais ou imaginários e quanto mais declaram em perigo a própria liberdade, e mais ameaçam a liberdade alheia, menos conseguem desfrutá-la em casa. Hoje é muito mais fácil o Governo prender um cidadão por motivos políticos ou mera desconfiança policial nos EUA que no Brasil, Argentina, Chile ou Venezuela. A chamada Lei Patriótica do governo Bush lembra muito a Lei de Segurança Nacional das ex-ditaduras militares sul-americanas. Que aliás se inspiravam numa doutrina fabricada no Colégio de Guerra de Washington. Essa mesma democracia, que Veja acaba de proclamar, com inexcedível patriotismo ianque, “a mais perfeita do mundo”, não consegue aliviar a sorte dos 15% de estadunidenses que vivem abaixo da linha da pobreza, apesar do PIB (PPC) de 14 trilhões de dólares, só inferior ao da União Européia. Tampouco tem um sistema de saúde universal como o da França, Canadá ou Brasil, onde o SUS é um bom sistema que ainda funciona mal. Lá, ou você paga ou morre na porta do hospital, porque o lobby dos Planos de Saúde não deixa que exista um SUS. Cuba, país pobre e cercado, com seu PIB nanico de US$ 51 bilhões, exibe uma taxa de mortalidade infantil menor que a dos EUA. Num livro recente, Noan Chomsky, o mais famoso intelectual dissidente dos EUA, disse que não deseja por enquanto nenhuma mudança radical, apenas uma Saúde Pública como a do Canadá e uma democracia como a do Brasil. Certamente ele gostaria também que seu país fosse tão pacífico quanto, digamos, a China, que nos últimos 100 anos só usou tropas no exterior para reocupar o Tibete em 1950, expulsar os EUA da Coréia do Norte em 1938 e travar breves escaramuças de fronteira com o Vietnam nos anos 70. Ao passo que o gigante das Américas mal sabe em quantas guerras se envolveu desde que anexou pela força metade do território do México em 1848. Tudo considerado, Barack Obama é melhor que McCain, um direitista típico, reacionário e atrasado em quase tudo que se possa imaginar. O republicano acha que é uma questão de “honra” pôr o Iraque de joelhos, matando o último resistente capaz de empunhar uma arma e defender seu petróleo. Quer menos impostos, menos Estado e menos regulamentos, de modo a aumentar a riqueza dos ricos e estimulá-los a investir para ganhar mais dinheiro e “alavancar” o progresso geral. Ou seja, apesar da megacrise financeira — um dos principais fatores da vitória de Obama — quer mais do mesmo que Bush ministrou aos seus e ao mundo, de passagem aumentando e muito sua fortuna pessoal. Completando o retrato desse wasp (iniciais em inglês de branco, anglo-saxão e protestante, a elite mais tradicional dos EUA), McCain não tem a mínima sofisticação que se pode esperar de um bem nascido. Considera-se uma “vítima do comunismo” por ter sido maltratado quando esteve prisioneiro do inimigo na Guerra do Vietnam, uma aventura em que os falcões de Washington sacrificaram 50 mil de seus soldados e aniquilaram cerca de três milhões de vietnamitas, além de outros dois milhões de habitantes do Laos e do Cambódja. Nunca lhe passou pela cabeça agradecer aos que lhe pouparam a vida. McCain como Bush e a simpática ex-ministra Marina Silva — também é contra a união civil de homossexuais e favorável ao ensino oficial do criacionismo, doutrina segundo a qual uns de nós descendemos do incesto de Caim com a mãe e outros, mais felizardos, de relações de Abel com a sobrinha. Os primeiros são provavelmente os que eles gostam de chamar de mother f.... Obama é mais cultivado e sensato que seu adversário, conhece um pouco as durezas da vida e demonstrou extraordinária habilidade ao conseguir superar o racismo tradicional dos EUA, a onda antiestrangeira, antiafricana e antimuçulmana posterior ao 11 de setembro de 2001 e até a coincidência infeliz de ter quase o mesmo nome de Osama Bin Laden, o legendário e quase mitológico inimigo nº 1 do imperialismo bushista. Que um mestiço chegue à Presidência dos EUA justamente nestes tempos, é mais uma prova de que a sociologia, as pesquias, as análises de conjuntura e os especialistas em geral ainda tem muito que aprender com o mundo real. Nem a CIA nem o KGB previram a queda do Muro de Berlim em 1989. Muitos menos algum "cientista político" antecipou que haveria um “negro” mandando na Casa Branca, ainda por cima chamado Obama, sete anos depois que a queda das Torres Gêmeas ameaçou justificar de uma vez para sempre o militarismo da elite imperial. Mas... Mas não há razão para comemorações antecipadas. Muito antes do ataque ao Pentágono e ao WTC, Hollywood já produzia filmes futuristas em que um “afrodescendente” governava os EUA. Há pelo menos três filmes assim nos últimos 10 anos e em todos ele o presidente se comporta como um branco qualquer, sem a mínima inclinação reformista. Obama tem falado em cuidar melhor dos pobres e dos trabalhadores, controlar excessos do capitalismo, negociar um pouco mais e “proteger empregos”. Nada muito diferente do programa habitual dos Democratas (Kennedy, Clinton) ou que possa sugerir uma ruptura com o imperialismo histórico. É muito pouco. Em questões simbólicas da política externa, Obama pode resumir-se assim: 1) retirar as tropas oficiais do Iraque o quanto antes, substituindo- as por mercenários contratados pelo governo fantoche de Bagdá, cujas atrocidades ou baixas têm pouco impacto na opinião pública estadunidense. 2) continuar e reforçar o ataque ao Afeganistão e às regiões de fronteira do Paquistão, zona considerada por ele mais “vital” do que o Iraque (por causa das rotas de petroléo e gás e da disputa com a Rússia), além de que ali se pode matar civis — bombardeando até casamentos e escolas, entre outras modalidades de terrorismo de Estado — sem causar tanta repercussão; 3) continuar pressionando a Venezuela visando a derrubada de Hugo Chávez e o realinhamento do país aos interesses petrolíferos dos EUA; 4) negociações com Cuba, sem excluir a possibilidade de acabar com o bloqueio. Mas o objetivo continua sendo solapar o regime socilista e privatizar sua economia. Pode ser que Obama, no poder, mostre que escondeu suas boas intenções para não assustar um eleitorado ébrio de receios e fascinado pelas soluções de força. Quem sabe não faz um governo de paz, como aquele que o candidato democrata McGovern propunha nos anos 70 e que o presidente democrata Carter (1987-81), contradições à parte, levou até onde pôde, mas com notáveis resultados inclusive no Brasil? Um mestiço ou “negro”— na presidência dos EUA... Tudo é possível. The Globe O resultado das eleições nos EUA devem ser oficialmente proclamado dentro de uma semana. A Rede Globo deu essa notícia como se fosse a coisa mais natural do mundo e sem fazer a mínima alusão à rapidez das apurações do TSE no Brasil. Falou também de “problemas” com as urnas, que nuns estados é de papel, noutros é máquina perfura-cartã o e noutros ainda é eletrônica, mas funcionado mal. De manhã já havia reclamação de que algumas urnas mudavam o voto do eleitor. E nada de o apresentador do jornal “Hoje”, da Globo, acrescentar que em 2001, na primeira eleição de Bush, houve sérios indícios de fraude. Ele só não se esqueceu de dizer que os EUA são “uma grande democracia, uma democracia sólida”. Não conhece a pilhéria de que nos EUA só não tem golpe de Estado porque lá não existe embaixada dos EUA para conspirar. Walter Rodrigues http://www.walter- rodrigues.jor.br/default.asp

Um comentário:

  1. Vim retribuir a visita, gostei do blog bem organizado vou voltar mais vezes para dar uma espiada pois os artigos são bons, sempre na luta companheiro, abraços Iran.

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