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segunda-feira, 12 de julho de 2010

08 DE MARÇO E A HISTÓRIA QUE NÃO EXISTIU

Em toda referência sobre a mulher e sua luta, em todo ano e em qualquer espaço, vemos sempre a mesma história sobre este dia fatídico. História esta repetida inclusive por feministas. História esta que nunca ocorreu, e, portanto, não é fato - é mito e pura má intenção de interesses contemporâneos em apagar os registros dos acontecimentos reais que intitularam o dia 08 de Março. 
Quando a “idéia” de se criar um dia da mulher ocorreu, vivíamos a década de 1960 e um mundo em convulsão político-ideoló gico, cultural, social e sexual. Em meio a revoluções, guerrilhas, biquínis, Woodstock, teologia da libertação, Beatles, movimento hippie, queima de soutiens e a pílula, boletins e jornais feministas americanos e europeus lançam a idéia da “criação” de um dia internacional da mulher, pois esta se evidenciava com um papel marcante na sociedade em sua luta por direitos.
A confusão em torno do mito começa a se dar alguns anos antes, quando em março de 1955 o jornal comunista francês, L’Humanité divulga uma greve, ocorrida em Nova Iorque no início do século, mas o faz sem citar detalhes nem mortos ou feridos. Em 1966, porém, uma publicação num boletim da Federação Democrática das Mulheres, em Berlim, resgata, incrementa e faz uma releitura tendenciosa da notícia do L’Humanité, divulgando que no dia 08 de Março de 1857 ocorreu “uma greve em Nova Iorque das operárias de uma fábrica têxtil e que os patrões as trancaram e incendiaram o prédio, queimando vivas 129 mulheres(!)”. 08 de Março, portanto, deveria ser a data  escolhida para comemorar o Dia Internacional da Mulher.
Esta data – 8 de março - já havia sido proposta, 56 anos antes, em 1910, por Clara Zetkin, dirigente do Partido Socialdemocrata Alemão, na 2ª Conferência da Mulher Socialista, e, 45 anos antes, em 1921, na Conferência das Mulheres Comunistas, em Moscou. E, nada teve a ver com o tão falado incêndio e mortes no continente norte-americano, mas sim com a luta das mulheres socialistas por dignidade e igualdade de direitos.
As greves que aconteceram em Nova Iorque e estão documentadas são: a das costureiras, em novembro de 1909, que durou três meses e a dos operários tecelões, em março de 1911, onde no período se registra um incêndio causado pelas péssimas instalações elétricas da fábrica, que matou 146 pessoas, entre elas várias mulheres. A culpa pelas mortes foi divulgada como crime dos patrões, atribuída ao capitalismo pelos socialistas. Pode vir daí a associação do dia 08 de Março.
Segundo historiadores, não existem em nenhum arquivo dos EUA ou Europa documentos com alusão a uma greve em 1857, em Nova Iorque. É um mito político e ideologicamente criado, pois greves, também eram comuns à época, mas esta, nunca existiu.
Em 1975 a ONU reconhece o 08 de Março como Dia da Mulher, aceitando a versão das 129 operárias queimadas vivas em 1857. A reverberação do mito encontra eco forte e se consolida.
Na verdade, foram outras greves, conferências e congressos socialistas que determinaram o Dia das Mulheres, e, seu nascimento se dá no movimento socialista do final do século XIX, início do XX, com as mulheres do partido comunista: Alexandra Kolontai, Clara Zetkin e Rosa Luxemburgo, dentre outras, que lutaram pela igualdade e libertação feminina.
Neste período, de início de século, em meio à luta de classes e de gênero, iniciou-se a busca da mulher socialista pelo direito ao voto. Essa luta se alastra por todo o mundo, inclusive nos EUA, que em 1909 e 1910, no Comitê Nacional das Mulheres Socialistas discute-se em torno da escolha de um dia para emblemar a luta da mulher pelo direito ao voto, que é previamente fixado: último domingo do mês de fevereiro. Fevereiro foi escolhido por estas, em apoio ao final da greve das costureiras americanas, que engrossavam a luta socialista por um sindicato. Mas, no Congresso da Internacional houve divergências quanto a escolher um dia fixo (americanas queriam fevereiro, alemãs queriam 1º de maio, russas o mês de março). Decide-se então que o Dia Nacional da Mulher, passaria a Dia Internacional da Mulher e que cada país escolheria um dia fixo anual para a comemoração, de acordo com fatos históricos envolvendo mulheres daquela nação.
As mulheres socialistas americanas então passam a comemorá-lo no último domingo de fevereiro. As russas fixam a data em 19 de Março para lembrar um levante de mulheres, pelo direito ao voto, na Prússia. As comemorações em vários países europeus seguem o mês definido pelas russas, ou seja, março: Suécia, dia 1º; França, dia 9; Alemanha de Clara Zetkin, 8 de Março (sem que houvesse um acontecimento especial para a escolha deste dia). EUA, a partir de 1914 passam a comemorar o dia Internacional da Mulher em 19 de Março, seguindo os direcionamentos de Alexandra Kollontai, dirigente russa.
Porém, em 23 de fevereiro de 1917 (08 de março pelo calendário ocidental), na Rússia e em plena guerra mundial, explode a greve por paz e pão das tecelãs de Petrogrado (hoje São Petersburgo) – exploradas, oprimidas e insurretas operárias, membros da base do partido - que não acatam a decisão da direção central de não fazerem greves. É o estopim do começo da primeira fase da Revolução Russa (Revolução de Fevereiro).
Neste período, as greves estavam proibidas, por proteção ao proletariado e aos comunistas, pois a união entre soldados e operários era muito frágil, o período muito tenso devido à guerra e qualquer manifestação era um barril de pólvora, um estopim para um confronto maior maior com o czar.
Contra sua vontade, os bolcheviques, seguidos pelos operários e outros de esquerda se viram obrigados a fazer coro às mulheres de Petrogrado, juntando-se à marcha, que se transforma rapidamente em uma greve de massa, sob o apoio forçado do comitê central.
Então, após a I Guerra Mundial, em 1921, em Moscou, na Conferencia das Mulheres Comunistas, o dia 08 de Março é adotado como Dia Internacional da Mulher Operária – lembrando as revolucionárias de Petrogrado, sendo depois divulgado como Dia Internacional da Mulher para marcar sua luta universal por libertação e igualdade de direitos.
Porém, o dia foi deixando de ser celebrado, à medida que o ideal revolucionário se esvaía na Rússia, se perdendo completamente em meio à II Guerra Mundial, na década de 40.
Nas décadas seguintes à segunda guerra, os partidos de esquerda, em conflito com o comunismo e inclusive alguns partidos comunistas europeus, reafirmam e dão eco à invenção americana, publicando a tal greve das tecelãs nos EUA – que nunca existiu, atribuindo à data do suposto martírio daquelas operárias queimadas vivas, o marco da luta das mulheres em todo o mundo.
Por outro lado, os EUA se inseria como referência da sociedade capitalista mundial e as discussões em torno do dia da mulher ressurgem ali, num terreno fértil e bem aceito socialmente, na década de 60. Com o declínio do comunismo e queda do muro de Berlim, enterra-se de vez a verdade, pois não era de bom tom lembrar a vitoria da greve das mulheres rebeldes russas, em Petrogrado, que enfrentaram o absolutismo do czar e incitaram a revolução russa.
Um dia americano de luta da mulher fora “inventado” para capitanear para o estado norte-americano um mérito ilegítimo.
Entre invenções, confusões, intenções e fantasias, o mito se fez, respaldado na década de 70 pela ONU e UNESCO.
Esta é a verdadeira história. E é esta que deve ser divulgada, quebrando essa inverdade, resgatando os fatos que alicerçam a luta da mulher socialista.
Levantemos novamente a bandeira vermelha e verdadeira que outrora foi levantada em busca da libertação da mulher, e, não a rosa da farsa, cor símbolo feminista, em alusão à cor do pano que as fictícias operárias teciam quando foram queimadas vivas.
Não aceito este mito e é esta história verdadeira que devemos passar a contar.

Mônica

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