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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

As especulações sobre a Petrobras

Escrito por Coluna Econômica Luís Nassif   
Há indícios de que houve campanha orquestrada, com todos os elementos para caracterizar crime contra o sistema financeiro nacional. Não foi meramente eleitoral a onda de boatos que chacoalhou o mercado nos últimos dias, sobre uma suposta capa da Veja revelando escândalos na operação de capitalização da Petrobras – capa que não existia.
Há indícios de que houve campanha orquestrada, com todos os elementos para caracterizar crime contra o sistema financeiro nacional. Nos próximos dias, caberá à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), Banco Central e Sisbin (Sistema Brasileiro de Inteligência), junto com a Polícia Federal, investigar a origem desses boatos.
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As ações da Petrobras são negociadas na Bolsa de Nova York (NYSE) e na Bolsa de São Paulo. Em uma, é negociada em dólares; na outra, em reais. Tem que haver uma correspondência entre ambas. Se o real começa a se apreciar (como ocorreu nos últimos dias) e se as cotações na NYSE se mantem constantes, a tendência é a queda do preço das ações em real. E vice-versa.
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Essa operação acabou levando grandes fundos a apostarem em duas lógicas.
No mercado de renda fixa, na apreciação cambial, provocada pela entrada de dólares para a Petrobras, melhorando ainda mais os ganhos com títulos públicos. Na renda variável, algum ajuste nos preços da Petrobras, com "realização de lucros" (quando o investidor vende a ação para embolsar o ganho) e apreciação cambial.
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Quando a Fazenda aumentou o IOF sobre a renda fixa, parte dos fundos resolveu derivar para o mercado de renda variável. Mas havia o risco de se valorizar os papéis da Petrobras, estragando operações já em andamento no mercado.
Foi nesse momento que os boatos ganharam força.
Inicialmente, foram impulsionados por entrevista ao Valor Econômico de David Zilberstain – ex-superintendente da Agência Nacional de Petróleo (ANP) no governo Fernando Henrique Cardoso e tido como o homem do PSDB para desenhar o programa do partido para o pré-sal.
Nela, Zilberstain defendia a revisão do modelo de exploração do pré-sal para o regime de concessão. O modelo adotado pelo governo foi o da partilha, pelo qual as empresas que quiserem explorar o pré-sal participam de um processo licitatório cujo lance é o percentual da exploração que será entregue ao Estado brasileiro. E a Petrobras participará da exploração junto com elas – o que reforça bastante o papel da empresa. Se o modelo mudasse, a Petrobras perderia.
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David certamente não tinha idéia de que a entrevista pudesse ser explorada pelo mercado. Mas outros elementos foram utilizados pelos boateiros.
Outro fator que levou à valorização da empresa foram os prêmios de governança corporativa recebidos na gestão Gabrielli. Os boatos diziam que a revista levantara operações suspeitas dele e de Dilma Rousseff.
Como consequência, as ações da Petrobras desabaram em São Paulo e Nova York. Logo em seguida, a Fazenda estendeu o IOF para operações de renda variável.
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Veio o final de semana sem que os boatos se confirmasse. Mas há farto material disponível para que as autoridades investiguem a volta do fantasma das quintas-feiras.
Pré-sal 1
Os boatos do final de semana, mais o debate dos presidenciáveis na TV Bandeirantes, acabou trazendo de novo o pré-sal para o centro dos acontecimentos. Para alguns analistas, o pré-sal somente começará a trazer resultados em 2020. Há uma visão míope desse processo. O início dos trabalhos, com as encomendas da Petrobras, já começou a movimentar a economia, agitando vários setores.
Pré-sal 2
O modelo atual permitiu ao Estado brasileiro definir as etapas do pré-sal. Quando começar a produção, haverá recursos para o fundo social – com destinação já definida por lei. Antes disso, exigências de índices de nacionalização nos equipamentos adquiridos estão permitindo o renascimento da indústria naval e de toda a cadeia de fornecedores.
Pré-sal 3
O jornalista George Vidor, de O Globo, publicou estudo importante sobre o tema, preparado pela Associação Brasileira das Empresas de Construção Naval e Offshore. Segundo os dados, durante o próximo mandato presidencial, o setor de petróleo deverá dobrar sua participação no Produto Interno Bruto (PIB), chegando a 20%. Isso se os demais setores crescerem entre 4 e 5% ao ano no período.
Pré-sal 4
O presidente da Associação, Augusto Mendonça, crê que o setor será duas vezes maior que a indústria de eletrodomésticos, empregando diretamente mais de 100 mil pessoas, quase o mesmo tanto do setor automobilístico. Hoje em dia, a construção naval emprega 65 mil pessoas. Mas o país ainda precisará ainda de três a quatro novos grandes estaleiros e outros quatro de médio porte, além dos que já estão em fase de implantação e funcionamento.
Pré-sal 5
Nas quatro primeiras rodadas de licitação, os vencedores se comprometeram a adquirir cerca de 30% de conteúdo nacional em equipamentos e serviços. Nas próximas rodadas o compromisso deverá ser bem maior. Segundo Augusto, esse ritmo de investimentos (de US$ 15 bi/ano) dependerá da manutenção da Petrobras como única operadora, de sua boa vontade em adquirir equipamentos brasileiros e da indústria conseguir reduzir seus custos.
Pré-sal 6
O artigo termina com os reflexos do pré-sal na economia do Rio de Janeiro. Há décadas o país não tinha empreendimentos novos em siderurgia, refino de petróleo, na petroquímica e nos portos nas dimensões dos que estão em execução no RJ. O Secretário Estadual de Desenvolvimento, Julio Bueno, constatou que serão os empreendimentos típicos do século 20 que ajudará a alavancar a economia do século 21.

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