Com o crescimento do País, o aumento da renda e 13 milhões de pessoas fora da pobreza absoluta, o presidente chega ao final do mandato ostentando mais de 80% de aprovação
Octávio Costa e Sérgio Pardellas/ Fotos: Ricardo Stuckert
FLAGRANTE
Lula se exercita à noite na piscina do Palácio da Alvorada No dia 1º de janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixará o Palácio do Planalto e entrará para a história do Brasil. Os oito anos de mandato de Lula foram marcados por realizações que mudaram a face do País. Graças aos programas de inserção social e ao forte crescimento da economia, quase 13 milhões de pessoas ultrapassaram a linha de pobreza absoluta. A renda per capita subiu para US$ 10 mil, aproximando-se do padrão de países desenvolvidos. Contingentes da população que integravam as faixas D e E ascenderam rapidamente para os grupos C e B. No governo de um ex-metalúrgico, a classe operária não chegou ao paraíso, mas pôde dar vida a seus sonhos. Não surpreende, portanto, que tenha obtido uma aprovação popular superior a 80%, índice jamais alcançado por qualquer de seus antecessores. Ao chegar ao poder em 2002, Lula disse que, na qualidade de primeiro cidadão de origem pobre e humilde a ocupar a Presidência, não tinha o direito de errar. Se errou, errou muito pouco. O balanço de sua gestão desfruta de reconhecimento nacional e internacional. Recebido com festa em suas viagens pelo País, Lula também é reverenciado por seus pares no Exterior. Deixou para trás o complexo de inferioridade de nossa diplomacia e ombreou o Brasil às grandes potências. Como faz nas noites quentes de Brasília, quando entra na piscina do Palácio da Alvorada, o presidente nadou de braçada no sucesso que acumulou. Sem maior dificuldade, fez sua sucessora, a ex-ministra Dilma Rousseff, cuja campanha se baseou exatamente na promessa de continuidade da era Lula. Fazendo justiça às suas conquistas, à comprovada sensibilidade política e à obsessão pelo desenvolvimento, Lula é mais do que merecedor do título de Brasileiro da Década.
EXPEDIENTE
No gabinete presidencial do Palácio do Planalto Em suas últimas semanas no cargo de mais alto mandatário do País, Lula mostra-se comovido com tudo que construiu. Às vezes chega às lágrimas nos improvisos de despedida. Mas, ao contrário de presidentes também carismáticos e populares como Getúlio Vargas e Juscelino Kubitscheck, despede-se do Planalto com o prestígio em alta. Vargas, ao deixar o Palácio do Catete em 1945, acumulava a fama de “Pai dos Pobres”, mas carregava nas costas o peso de uma ditadura sangrenta. Juscelino, além de passar a faixa presidencial a um opositor, Jânio Quadros, era alvo de críticas ferrenhas da UDN, que o acusava de ter dado início ao ciclo inflacionário. Já Lula só tem pontos a seu favor. Essa é, por exemplo, a opinião do professor americano Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia: “Na era Lula, que acaba agora, a economia cresceu muito bem, houve grande investimento na redução da pobreza, a inflação e a situação fiscal estão controladas e o mercado doméstico se fortaleceu. O que mais se deve esperar de um país?” O famoso historiador britânico Eric Hobsbawn é ainda mais enfático. Para ele, “Lula é o verdadeiro introdutor da democracia no Brasil. Ninguém havia feito o que ele fez no combate à desigualdade na história desse país. Por isso, hoje tem mais de 70% de popularidade”. Portanto, em situação bem diferente de Vargas e Juscelino, Lula deixará Brasília de cabeça erguida e sem temer a solidão que costuma abalar os que deixam o poder.
PÓS-GOVERNO
Lula e dona Marisa Letícia querem garantir
privacidade absoluta na nova vida em São Paulo
JUNTOS
O presidente e dona Marisa em viagem a Istambul e depois
no Alvorada, durante festa de aniversário da primeira-dama A pergunta que se faz hoje no Brasil e pelo mundo afora é o que o filho de dona Lindu fará depois que empossar a primeira mulher na Presidência da República. Lula tem dito que pretende “primeiro, desencarnar da Presidência”. Mas tomou a decisão de governar em sua plenitude até a manhã de 1º de janeiro. E pouco se manifestou sobre seus planos para além do mandato. Desencarnar da rotina da vida em Brasília não será uma tarefa fácil. O Palácio da Alvorada, por exemplo, ganhou um ambiente de família. Sob o comando de dona Marisa Letícia, filhos e netos passaram a frequentar a residência oficial, com direito a banhos de piscina e sessões privadas de cinema. Embora refratária a atos públicos, a primeira-dama deu todo o suporte ao marido durante os oito anos de mandato. Sempre carinhosa e dedicada, acompanhou-o em várias viagens ao Exterior e também se esmerou em recepções e festas para amigos na Granja do Torto, a principal delas em São João. Dona Marisa tinha à sua disposição um gabinete no Palácio do Planalto, no estratégico terceiro andar. Sem grande alarde, atuou em movimentos sociais e outros em defesa da mulher. No pós-governo, por decisão de dona Marisa, Lula deve voltar ao apartamento de São Bernardo do Campo, que está sendo reformado. “Vou ficar no sofá e a Marisa vai toda hora me mandar levantar os pés para limpar a poeira”, brinca o presidente. “Pretendo me dedicar à pesca e preparar um coelho assado na panela”, completou.
Nas conversas mais recentes, Lula deu algumas indicações mais concretas sobre seus primeiros passos após deixar o Planalto. “Já sei o que vou fazer. Vou dar um tempo de três meses para que eu não continue falando como presidente. Depois dessa quarentena, voltarei a falar, mas daí já como ex-presidente”, explica. A ideia é descansar numa praia durante o verão. Mas o roteiro do início de 2011 é mantido em absoluto sigilo. Lula e dona Marisa querem garantir privacidade absoluta. A ordem é pernas para o ar. Em entrevista a blogueiros, o presidente manifestou o desejo de desfrutar de um merecido descanso numa praia do Espírito Santo, ao lado do ministro da Comunicação Social, Franklin Martins. “O Franklin vai me convidar para passar uns dias com ele. Quero comer um lagostim e poder tomar uma cervejinha gelada sem medo de alguém estar fotografando”, disse Lula. Martins, no entanto, nega tal plano e diz que foi brincadeira do presidente. Fontes do governo, porém, confirmam que Lula vai mesmo para uma praia. A escolha deve recair, com grande possibilidade, no paraíso tropical de Cumuruxatiba (BA), um vilarejo com pouco mais de quatro mil habitantes, que fica no litoral sul da Bahia, entre Prado e Porto Seguro, na chamada Costa das Baleias. O local, também frequentado por Martins, é conhecido pelas belas praias e pela culinária típica do Nordeste.
PLANOS
Quando deixar a Presidência, Lula terá
férias numa praia isolada do Nordeste Depois do período de férias, o ex-presidente Lula deverá retomar o ativismo político que lhe é inerente. Num primeiro momento, vai despachar na antiga sala recém-reformada do Instituto Cidadania, do PT, em São Paulo, que ocupava antes de ser eleito presidente. Sua primeira tarefa será organizar a agenda de compromissos, de modo que possa receber os cerca de 30 títulos de doutor honoris causa que lhe foram outorgados ao longo dos últimos oito anos por importantes universidades da Europa e dos Estados Unidos. Paralelamente, o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, o ex-presidente do Sebrae Paulo Okamoto e o ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência Luiz Dulci trabalharão para dar uma formatação jurídica e estrutural ao futuro Instituto Lula. Quem também participará desse projeto será o ex-chefe do gabinete-adjunto da Presidência Swedenberger Barbosa. A nova entidade, que poderá ser uma fundação ou simplesmente uma ONG, terá a função de organizar todo o acervo acumulado no Palácio do Planalto, que hoje encheria quase 12 caminhões. O Instituto Lula também servirá de base para a atuação política do ex-presidente. A sede deverá ficar num edifício na região do Ibirapuera, na capital paulista. O martelo, no entanto, ainda não foi batido por Lula. A ideia era inaugurar o instituto logo no início de 2011. Mas, temendo haver conflito de interesses, Lula desautorizou as negociações para a criação da entidade enquanto estivesse no poder, pois centenas de empresários telefonaram para o Planalto demonstrando desejo de colaborar. Entre eles, o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo pessoal do presidente. Bumlai chegou a conceder entrevista sobre o assunto. Confirmou que estava ajudando na captação de recursos para a nova entidade, mas foi aconselhado por Lula a deixar o tema em banho-maria.
MOMENTOS
Banho de mar em Luis Corrêa (PA), pescaria em Fernando
de Noronha e uma cena doméstica: afagos na cadela Michele Apesar de ter adiado o lançamento do instituto, Lula já tem em mente como será sua nova atuação fora do poder. À frente da futura entidade, Lula pretende se dedicar simultaneamente às agendas interna e externa. “Na frente nacional, ele deve acompanhar as reformas políticas no País. No Exterior, seu alvo será a África e a América Latina”, adianta Gilberto Carvalho. “Eu não vou parar de fazer política. Quero ser um agente motivador da sociedade”, revelou Lula, em recente encontro com presidentes da América do Sul em Buenos Aires. “Me esperem que continuarei andando pela América Latina”, falou, com lágrimas nos olhos, para a presidente da Argentina, Cristina Kirchner. Qualquer que seja sua missão futura, credibilidade internacional é o que não lhe falta. Os líderes mundiais não cansam de elogiar a postura de seu governo no combate à crise econômica do ano passado. No Exterior, é amplamente reconhecida a capacidade que o Brasil – antes visto como um território ameaçado por turbulências políticas e pela inflação – teve de se transformar num país de economia estável e porto seguro para investimentos. Antes de 2003, parceiros comerciais do Brasil temiam uma gestão irresponsável com potencial para contaminar futuros negócios. O desenrolar dos acontecimentos comprovou que as avaliações iniciais estavam totalmente equivocadas. Graças à política econômica de fundamentos sólidos, o Brasil possui hoje um mercado interno estável, com as exportações de carros e aeronaves, soja e minério de ferro, petróleo e celulose, açúcar, café e carne bovina correspondendo a apenas 13% do PIB.
ENERGIA
Com a equipe num voo depois da inauguração de
termelétrica movida a biomassa e cana-de-açúcar Em sua atuação internacional, já como ex-presidente, Lula pretende repetir a experiência de mediador que exerceu no governo e fora dele. Entre 1975 e 1980, quando comandou o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, ele procurava agir como um conciliador no entrechoque entre patrões e empregados. Um líder que pairava acima das disputas pessoais, aproximava-se de pessoas com interesses divergentes, buscava alianças e só decidia depois de ouvir os diferentes lados envolvidos. Chegou a ser afastado da presidência do sindicato por alas radicais exatamente sob a acusação de excesso de jogo de cintura. Após o malogro dessa estratégia mais xiita, foi reconduzido pelos companheiros. A amigos próximos, o presidente confidenciou o desejo de aproveitar esse perfil para ser uma espécie de “construtor de pontes” no desenvolvimento da América Latina e da África.
O continente africano, marcado pelo subdesenvolvimento, por desigualdades sociais e altas taxas de pobreza, sempre foi visto com carinho por Lula. Prova disso é que o presidente terminará os dois mandatos como o chefe de Estado brasileiro que mais viagens fez pela África. Foram 12 incursões. Como consequência dessas visitas, a África, segundo o chanceler Celso Amorim, tornou-se, durante o governo Lula, o quarto maior parceiro comercial do País. A partir de 2011, Lula quer levar para a África, além das experiências bem-sucedidas de políticas sociais desenvolvidas no Brasil, como o Bolsa Família, o exemplo da matriz energética limpa. O presidente avalia, por exemplo, que as regiões da savana africana se assemelham, em muito, com o Cerrado brasileiro e que, por isso, trata-se de ambiente propício para o desenvolvimento do biocombustível. Segundo Lula, a Embrapa poderia até entrar nesse circuito. “O biocombustível pode ajudar os países africanos a gerar mais empregos e, consequentemente, reduzir a pobreza”, disse um auxiliar de Lula. Quanto aos investimentos, o Instituto Lula também se encarregaria de encontrar empresas dispostas a contribuir com o esforço africano.
ATENÇÃO AOS POBRES
Para o historiador Eric Hobsbawn, Lula
é o introdutor da democracia no Brasil
O projeto de Lula para a América Latina é viabilizar o que ele chama de interligação da infraestrutura. Ele costuma lembrar, em reuniões com assessores, que a Argentina, durante muitas décadas, utilizou bitolas de trem incompatíveis com as do Brasil temendo que tropas brasileiras invadissem o país por ferrovia, caso houvesse uma guerra entre as duas nações. Em conversa com a presidente Cristina Kirchner, Lula confirmou que as diferenças das bitolas por motivos de estratégia militar dificultaram a integração do Brasil com o país vizinho. Outro exemplo usualmente citado é o da falta de uma linha ligando a usina de Itaipu a Assunção, no Paraguai, problema que foi resolvido no âmbito do Mercosul. “Hoje os tempos são outros”, costuma frisar Lula. Ele quer mostrar, em conversas com chefes de Estado latino-americanos, que é possível desenvolver projetos de infraestrutura comuns na região, sem preocupação com as fronteiras e com os preconceitos nacionalistas. O PAC, grande peça de campanha de Dilma Rousseff à Presidência, que recebeu investimentos de mais de R$ 25 bilhões só em rodovias, será utilizado como exemplo de política bem-sucedida.
AMÉRICA E ÁFRICA
Celebração da data nacional da Colômbia e viagem ao Quênia A infraestrutura comum na América do Sul seria mais um feito extraordinário na trajetória de Lula, que é pública e notória. Já foi cantada na literatura e bem retratada no cinema (o filme sobre sua vida concorre ao Oscar 2011). Mesmo assim, alguns aspectos importantes devem ser relembrados e sublinhados. Um dos seus grandes méritos foi ter sabido se aperfeiçoar durante o caminho. Se existe um líder formado pela universidade da vida este foi o presidente Lula. Dono de instinto incomum e poder de absorção e aprendizado extraordinários, o ex-retirante nascido em Garanhuns, interior de Pernambuco, sem sequer o ensino médio, superou a desconfiança inicial das elites, fez história no governo e adquiriu um status de líder mundial. “Amadureci muito no poder”, costuma dizer. Sua imagem também foi sendo moldada ao longo do tempo. Em 1989, na disputa à Presidência, Lula apresentava-se com um terno barato e mal cortado e de barba mal feita. O linguajar também não era tido como o mais apropriado para um candidato ao posto máximo do País. Mas o metalúrgico rústico, que chegou a ficar impressionado quando entrou pela primeira vez no Palácio de Buckingham, residência oficial da rainha Elizabeth II, pertence ao passado. Embora conserve até hoje hábitos dos duros tempos de São Bernardo do Campo, o presidente é considerado, atualmente, um homem refinado, capaz de privar da intimidade de chefes de Estado como o presidente dos EUA, Barack Obama, Angela Merkel, chanceler alemã, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy.
TÍPICO
Com traje festivo na visita a Astana, no Casaquistão Embora transite pelos países mais ricos do mundo, Lula faz questão de ressaltar suas raízes regionais. “Sou um político latino-americano”, lembrou o presidente ao participar, no último dia 4, da 20ª Cúpula Ibero-Americana de Chefes de Estado e de Governo, seu último compromisso internacional antes de deixar o cargo. Com essa última passagem pela Argentina, Lula também registrou outra marca: a de 150 dias em viagens pela América do Sul. Seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, passou, entre 1995 e 2002, 113 dias viajando pelos países vizinhos. Só a Argentina Lula visitou 18 vezes. Marcada pela ousadia, a política externa do governo Lula abriu portas e mercados, mas provocou atritos nas relações com os Estados Unidos. A despeito das críticas recebidas nos últimos anos por estabelecer uma política externa voltada para as boas relações com governantes de esquerda do continente, como o presidente venezuelano, Hugo Chávez, e o boliviano, Evo Morales, Lula mostrou que já estava pavimentando o caminho que pretende trilhar a partir do próximo ano.
LEGADO
Por todas as partes do mundo,
Lula se fez ouvir e recebeu a
atenção dedicada aos estadistas
No plano interno, só o tempo dirá qual será o alcance de sua influência. O certo, porém, é que Lula vai usar seu prestígio para assegurar a sustentação política do governo Dilma, sem, no entanto, interferir nas decisões da presidente que ajudou a eleger. “Claro que o ex-presidente estará sempre à disposição da presidente eleita para colaborar, ajudar na articulação política e nos momentos de crise, mas só quando for chamado por ela, por iniciativa dela, jamais dando uma de oferecido. Não é do feitio dele”, diz o ex-chefe da Comunicação Social de Lula, o jornalista Ricardo Kotscho. A ideia da criação de uma frente ampla de partidos faz parte desse projeto. Em discursos durante a campanha, o presidente disse esperar que o governo Dilma não passe pelos mesmos sobressaltos políticos vividos por ele no fim do primeiro mandato. “Eu enfrentei uma oposição muito raivosa”, ressaltou. É não cansa de repetir o mesmo raciocínio nas avaliações com assessores.
RICOS
Presença em Davos, Suíça, em defesa da economia nacional Um de seus sonhos é liderar uma espécie de concertação partidária, formada por legendas da base aliada. “Eu sonho com a construção de uma frente ampla no Brasil. Juntar as forças políticas aqui, construir um programa comum, fazer a reforma partidária, que acho que é uma condição sine qua non para a gente poder mudar em definitivo o Brasil”, afirmou Lula, em entrevista à ISTOÉ. Segundo auxiliares, a reforma política segue como uma das suas principais bandeiras. Como presidente de honra do PT, Lula vai trabalhar nos bastidores pelo voto em lista fechada e o financiamento público para campanhas eleitorais. Não será surpresa se Lula percorrer universidades do País conscientizando a população sobre a necessidade do aperfeiçoamento do atual sistema político-eleitoral. O presidente descarta, contudo, entrar no circuito de palestras para empresários e intelectuais, a exemplo do que faz FHC, que chega a faturar com o trabalho cerca de R$ 3 milhões por ano. “Não é o meu perfil e não acho apropriado fazer fortuna com palestras”, tem afirmado Lula.
OUSADIA
O Brasil ganhou respeito dos mais ricos ao superar a crise
mundial com mais investimentos e incentivos ao mercado
POBRES
Recebido com festa na Guiné Equatorial Do alto de seu prestígio e com a agenda política movimentada nos próximos anos, é natural que o nome de Lula torne a ser alvo de especulação para o retorno ao Palácio do Planalto em 2014. Em recente reportagem de capa, ISTOÉ chegou a dar detalhes sobre um possível projeto de volta de Lula ao poder daqui a quatro anos. Por ora, o presidente nem sequer cogita o assunto, até para não prejudicar a condução do governo recém-eleito. “Vou ser um bom ex-presidente da República, sem atrapalhar quem estiver governando este país”, disse. Lula sabe, porém, que, independentemente de ter interesse ou não em concorrer a um novo mandato, ele será sempre uma reserva política nacional a ser consultada em momentos de tensão política. Os assessores mais próximos de Lula vislumbram dois cenários. Um deles leva em conta o êxito do governo Dilma, no qual apostam nove em cada dez petistas, sob o argumento de que ela já pegará a “casa arrumada”. Nesse cenário, Lula dificilmente se candidataria em 2014. No governo, assessores palacianos são unânimes em afirmar que se Dilma for bem-sucedida, em sua gestão na Presidência da República, como todos creem que será, nem pensará em abrir mão da reeleição. Será o caminho natural, argumentam. Lula concorda e assina embaixo.
LIGAÇÃO FORTE
Abraçado pelo povo em Lagoa Seca (PB)
e colhendo mamona em Eliseu Martins (PI)
Mas, de acordo com fontes do Planalto, se o governo Dilma não obtiver o sucesso esperado, estaria aberto, então, o caminho para o terceiro mandato de Lula. A exemplo do que aconteceu com Getúlio Vargas em 1949, quando o caudilho gaúcho foi procurado por políticos no autoexílio em São Borja, para voltar ao poder, amigos de Lula acreditam que ele poderá retornar ao Palácio do Planalto em 2014, nos braços do povo. Seria um novo “chamamento” de políticos, intelectuais e representantes da sociedade civil. Neste caso, fica a pergunta, feita por um dos assessores próximos do presidente: Será que valeria a pena correr o risco, depois de Lula deixar o governo tão bem avaliado internamente e consagrado internacionalmente? “Mesmo na remota hipótese de vir a ser candidato e de ser eleito, Lula sabe que correria o sério risco de perder, num eventual terceiro mandato, o prestígio que conquistou nos dois primeiros, chegando a mais de 80% de aprovação popular, o que é inédito e não deverá se repetir tão cedo. Seu lugar na história já está garantido. Para que arriscar?”, questiona seu amigo Ricardo Kotscho. Mais uma vez a decisão caberá ao infalível instinto político de Luiz Inácio Lula da Silva. Certamente, o estadista da década acertará de novo. Como acertou quando, ainda neófito no poder, projetou o futuro do Brasil sob seu comando. Assim que foi eleito, em 2002, Lula disse em entrevista à ISTOÉ que era “a hora de mudar, de construir um país com mais dignidade e mais justiça”. Lula chegou lá. Mudou o Brasil. Agora ele quer romper as fronteiras nacionais e ajudar a construir não só um país, mas um mundo melhor. Pelo seu histórico, Lula não falhará.
"Se no final de meu mandato cada brasileiro puder comer três
vezes ao dia, terei cumprido a missão de minha vida"
2002, primeiro pronunciamento como presidente eleito
“Só Deus será capaz de impedir que a gente faça este país ocupar
o lugar de destaque que ele nunca deveria ter deixado de ocupar”
2003
“Não farei como Getúlio, Jânio ou João Goulart. O meu
comportamento será o de JK: paciência, paciência, paciência”
2005
“Quando eu vejo gente criticando o Congresso, com todos os defeitos que possa ter o
Congresso, eu levanto a mão pro céu todo dia e agradeço a existência dele”
2007
“Daqui a alguns dias vou encontrar o meu amigo Bush e vou dizer a ele: ‘Bush, resolve aí
o problema da crise, porque não vamos deixá-la atravessar o Atlântico e chegar ao Brasil’”
2007
“Tem gente que não gosta do meu otimismo, mas eu sou corintiano, católico,
brasileiro e ainda sou presidente do País. Como eu poderia não ser otimista?”
2009
“Não tem coisa mais fácil do que cuidar de pobre no Brasil. Com R$ 10, o pobre se contenta;
rico não, por mais que você libere, quer sempre mais, nunca se conforma”
2009
“Cortaremos o batom da dona Dilma, cortaremos o meu corte
de unha, mas não cortaremos nenhuma obra do PAC neste país”
2009
“Acho que a vantagem da Dilma é que ela não tinha pretensão. Acho que jamais passou
pela cabeça da Dilma que ela seria escolhida candidata a presidente da República”
2010
“Quando eu deixar a Presidência, vou ter 65 anos,
eu ainda tenho muita contribuição para dar ao País”
2010
“O Palácio não é apenas para receber príncipe, rainha ou presidente,
é para receber do pé descalço ao cara que está de sapato alto”
2010
“Na primeira vez que me perguntaram se eu era comunista, respondi: ‘Sou torneiro mecânico’”
No livro “Lula, o Filho do Brasil”
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