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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O dia que a morte não veio

Meu velho um dia falou, com seu jeito de avisar: olha, o mar não tem cabelos que a gente possa agarrar. Paulinho da Viola





O dia que a morte não veio
Estava acertado o final
Hora e lugar do combate
(Pois desde o berço o mortal
Espera a faca que o mate)

Mas ao chegar o arremate
O instante grave e fatal
A morte – num disparate –
Negou seu próprio ritual

O dia em que a morte não veio
Tenho pra sempre guardado
Pois ela inventou um meio
E faltou ao encontro marcado

O dia em que a morte não veio
É uma lição aprendida:
Pois ela - por ter receio -
Enfim rendeu-se pra vida

Não morreu quem deveria
Não chegou quem se esperava
A morte – estranha ironia! –
Fingiu que bem morta estava

Ah! Eu sei que ela volta um dia
Pois sempre vem, cedo ou tarde,
Mas vai me ver – quem diria?
Tendo ela por covarde

Martim César

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