Antônio de Sousa Neto
Em 1º de Julho de 1866 morre, em decorrência de ferimentos de combate na Batalha do Tuití, Guerra do Paraguai, o General e líder da Revolução Farroupilha Antônio de Souza Netto
Aqui descansam os restos mortais do Brigadeiro Antônio de Souza Netto, falecido na cidade de Corrientes em 1º de julho de 1866". É o que se lê na lápide do mausoléu (a esquerda da foto) do proclamador da República Rio-Grandense, no cemitério de Bagé,
para onde foram transladados, e definitivamente guardados a 29 de dezembro de 1966.
Mas foi em Bagé que Antônio de Souza Neto desenvolveu a maior parte de sua enorme atividade de guerreiro defensor da Liberdade, da República, da dignidade do Brasil Império que êle profundamente amava como sua Pátria, mas detestava como monarquia. E por isso, feita a paz de Poncho Verde a l de março de 1845, que pos fim à República Rio-grandense por êle proclamada a 11 de setembro de 1836, destinada a unir-se a todo o Brasil republicano, concordou com os chefes da República que findava para a pacificação do Rio Grande, mas se retirou para Corrientes, República Argentina, exilado voluntário, mas sempre atento às atividades político-sociais do Brasil.
Estancieiro no Uruguai, com seus campos talados e vazios que tudo lhe levara a Revolução Farroupilha a que se dedicara de corpo e alma - para aí se transportou após alguns anos de repouso em Corrientes. E, nas margens do Queguaí, ao norte de Paissandu, tornou-se, em breve, por sua capacidade de trabalho e inteligência, adiantado estancieiro.
Mas jamais abandonou sua terra natal e seu povo. Sempre de olhos atentos, de quando em quando visitava a sua Bagé dos Campos do Seival, onde proclamara a República Rio-Grandense, tomando conhecimento direto dos acontecimentos. E daí saiu, em 1851, com sua cavalaria Brigada de Voluntários Rio-Grandenses - que organizara à sua custa inteiramente, para os campos da luta contra a ditadura de Rosas, o que lhe valeu a promoção a Brigadeiro Honorário do Exército Brasileiro, e a transformação de sua Brigada de Voluntários Gaúchos, em Brigada de Cavalaria Ligeira. Vencido o ditador, voltou à sua estância em Queguaí, para novamente regressar ao Rio Grande do Sul, em 1864, como representante dos estancieiros brasileiros no Uruguai - estancieiros residentes aí -, a fim de apresentar ao govêrno imperial as q ueixas contra assassínios e roubos ali praticados contra êle e seus concidadãos.
Aliás, já em 1859 havia reclamado, violentamente declarando que, se o govêrno imperial não tomasse providências, êle, Neto, organizaria sua fôrça e assumiria a responsabilidade de invadir o Uruguai e vingar seus concidadãos. Regularizada a situação, com contemporarizações, e algumas medidas preventivas, em breve tudo voltou ao que era dantes e, novamente agredidos com violência, tornou ao Rio Grande do Sul, mas desta vez com podêres maiores. E, com êsses podêres, foi ao Rio de Janeiro e aí, na côrte, onde foi acolhido com bastante afeto, depôs as queixas perante S. M. D. Pedro II. Pouco mais tarde, à frente de sua Brigada de Cavalaria Ligeira, fazendo a vanguarda do Exército, sob o comando do Marechal João Propicio Menna Barreto, invadia o Estado Oriental do Uruguai, - em auxílio do Presidente eleito da República, Don Venâncio Flores, tomando parte no assalto às trincheiras de Paissandu, onde também se sagrou, no ataque por água, o imperial marinheiro Marcílio Dias, recebendo seu batismo de fogo.
Dessa campanha somente regressou a 20 de fevereiro de 1865 para trabalhar com seus patrícios contra o invasor paraguaio. Sua cavalaria ligeira, nos rencontros entre São Borja e Uruguaiana, até a rendição a 18 de setembro de 1865, ostentou, sempre, ao lado da imperial bandeira do Brasil, o pavilhão tricolor da República Rio-Grandense. Aliás, nessa sua fôrça eram numerosos os oficiais e soldados que o haviam acompanhado durante a Revolução Farroupilha.
Em seguida, incorporada a sua fôrça ao Exército do General Manoel Luís Osório, comandante em chefe das tropas em ação no Rio Grande do Sul, Neto transpôs, logo após a rendição de Uruguaiana, o rio Uruguai, marchando por terra até o território paraguaio. E aí, batendo-se com excepcional bravura em Estero Bellaco a 2 de maio de 1866, e depois em Tuiuti a 24 do mesmo mês e ano, foi gravemente ferido. Transportado para o Hospital Militar de Corrientes, faleceu a 1 de julho do mesmo ano, naquele nosocômio.
Antônio de Souza Neto, tropeiro de profissão, soldado por imposição da Pátria, - primeiro a Pátria Rio-Grandense e depois a grande Pátria Brasileira, - passou sua existência a serviço da liberdade e da justiça, para o bem do Brasil e do Rio Grande do Sul.
Iniciando sua vida de estudante em Pelotas, com seus irmãos Rafael e Domingos, foi em seguida para Bagé, onde se dedicou à criação de gado. Tropeiro, percorria o Rio Grande e o Estado Oriental, sendo por seu caráter, por sua dignidade e apresentação pessoal, querido e respeitado por todos. Afeiçoado às carreiras, possuía o melhor plantel de cavalos de corridas em cancha reta.
Como todo o rio-grandense que se prezava, naqueles tempos, também Antônio de Souza Neto se apresentou e foi soldado. Aos 28 anos de idade era capitão de segunda linha. E antes de completar 35 era coronel de legião, em Bagé, onde dia a dia aumentava de prestígio por seu valor, capacidade e inteligência, a par de um coração boníssimo, sempre pronto a proteger o fraco contra as injustiças, e a justiça contra as violências.
o movimento farroupilha, organizado e dirigido por Bento Gonçalves da Silva, encontrou Antônio de Souza Neto já preparado para a defesa dos direitos e liberdades do Rio Grande. E quando rebentou a Revolução, a 20 de setembro de 1835, o valoroso coronel comandante de legião da Guarda Nacional de Bagé de imediato organizou, auxiliado por José Neto, Pedro Marques e Ismael Soares da Silva, o corpo de cavalaria que um ano mais tarde se destacaria nos Campos do Seival, derrotando o grande cabo de guerra imperial General João da Silva Tavares e proclamando a República Rio-Grandense, livre e independente, para livrar o povo rio-grandense "a não sofrer por mais tempo a prepotência de um govêrno tirano, arbitrário e cruel como o atual".
Promovido a General da República Rio-Grandense, o grande amigo e admirador de Bento Gonçalves da Silva pouquíssimas vêzes foi vencido durante aquêles quase dez anos de lutas constantes de um país inteiro, bem armado e municiado, contra um pugilo de homens livres do Rio Grande do Sul que, sem jamais tirarem os olhos da grande Pátria, preferiam a morte a um acôrdo desairoso.
E foi ainda Antônio de Souza Neto que, na primeira tentativa de pacificação, em novembro-dezembro de 1840, proposta por Francisco Alvares Machado em nome do govêrno imperial, respondeu à consulta de Bento Gonçalves: - "Enquanto tivermos mil piratinenses e dois mil cavalos, a resposta será esta", dissera, pondo a mão direita nos copos de sua espada, porque as propostas não haviam sido feitas com muita lisura e estavam muito aquém da dignidade daqueles heróis que se batiam contra o Império, sacrificando tudo por um ideal: saúde, família, bem estar, fortuna e propriedades.
O semanário ilustrado de Pôrto Alegre, 'Sentinela do Sul', n.' 7, de 18 de agôsto de 1867, publicando uma bela litografia de I. Weingaertner, retrato do Brigadeiro Antônio de Souza Neto, assim termina seu comentário biográfico do proclamador da República RioGrandense:
- "Faleceu, pois, o General Neto no cumprimento do mais sagrado dos deveres; e tanto mais apreciável é a sua dedicação quanto é certo que a sua extraordinária riqueza e o prestígio de que gozava o tornavam de tal maneira independente, que tudo quanto fêz foi inteiramente espontâneo e somente inspirado pelo amor à Pátria".
Realmente, Souza Neto, que se iniciara na vida pública como tropeiro, depois de ter pequena fortuna, entregou-se inteiramente aos ideais políticos consagrados na República Rio-Grandense. Depois, reiniciando e reconstituindo sua fortuna, residindo e com propriedade enorme fora da Pátria, nada mais precisava fazer, e tanto assim que, apesar de pequenas perseguições a agregados seus, fôra sempre respeitado e temido no Uruguai, abalou-se, a bem da justiça, de sua estância e novamente, de armas em punho, defendeu os direitos do Brasil, primeiro, contra Rosas, depois contra Aguirre e, finalmente, contra Solano López, do Paraguai.
E aí faleceu, vitimado em combate, no imortal combate de Tuiuti, onde outro gaúcho de fibra, Osório, brilhou mostrando ao mundo o valor, a inteireza e a nobreza do povo sul-rio-grandense.
Antônio de Souza Neto, como Manoel Luís Osório, são autênticos símbolos de um povo e legítimos guias da mais briosa cavalaria do mundo: a Cavalaria do Rio Grande do Sul, - hoje colocada à margem pela motorização, pelos cavalos-vapor... menos belos, menos brilhantes, mas mais temerosos.
Retrato do General Antônio de Souza Neto, óleo sobre tela, século XIX. Acervo do Museu Júlio de Castilhos, Porto Alegre, Brasil.
Antônio de Sousa Neto
Antônio de Sousa Netto (Rio Grande, 25 de maio de 1803 — Corrientes, 2 de Julho de 1866) foi um político e militar brasileiro, um dos mais importantes nomes do Rio Grande do Sul. É reconhecido por seu árduo trabalho na Revolução Farroupilha, que durou quase dez anos (de 1835 a 1845), como o segundo maior líder revolucionário.
Nasceu na estância paterna, em Capão Seco, no distrito de Povo Novo, da atual cidade de Rio Grande; lá é lembrado pelo CTG General Netto (de Povo Novo). Era filho de José de Sousa Neto, natural de Estreito (São José do Norte), e de Teutônia Bueno, natural de Vacaria. Por parte de pai, era neto de Francisco Sousa, natural de Colônia do Sacramento. O seu bisavô, Francisco de Sousa Soares, fora oficial de Auxiliares no Terço Auxiliar de Colônia do Sacramento e casara, em 1791, com Ana Marques de Sousa na capela da Fortaleza São João.[1]
Descendia, pelo lado materno, do bandeirante João Ramalho, que vivia em São Paulo antes do povoamento e que casou com a índia Bartira (Isabel), filha do cacique Tibiriçá. Também pelo lado materno, descendia do paulista capitão-mor Amador Bueno da Veiga.
Era coronel comandante de legião da Guarda Nacional de Bagé, quando participou da reunião que decidiu pelo início da Revolução Farroupilha em 18 de setembro de 1835, na "Loja Maçônica Filantropia e Liberdade". Organizou, junto com José Neto, Pedro Marques e Ismael Soares da Silva, o corpo de cavalaria farroupilha. [1] Era o general da primeira brigada do exército liberal republicano.
Em 1° de junho de 1836, participou do ataque a Rio Grande sem sucesso. Após a Batalha do Seival, proclamou a República Rio-Grandense, no Campo dos Menezes, a 11 de setembro de 1836. Lutou em diversas batalhas pelos republicanos, tendo comandado o cerco a Porto Alegre, durante vários meses, e a retomada de Rio Pardo, que estava nas mãos dos imperiais.
Em 7 de janeiro de 1837, travou o combate do Candiota, em que foi derrotado por Bento Manuel, mas já no dia 12 de janeiro, em Triunfo, vencia as tropas do coronel Gabriel Gomes, que morreu em combate.
Em abril de 1837 comandou a conquista de Caçapava, recebendo a adesão dos novecentos homens da guarnição imperial ali comandada por João Crisóstomo da Silva, apoderando-se de quinze peças de artilharia, quatro mil armas de infantaria e farta munição de boca e de guerra.[2] Esses recursos possibilitaram a subsequente conquista de Rio Pardo, a 30 do mesmo mês, levando a que o comandante militar da Província, marechal Barreto, respondesse a um Conselho de Guerra.
Em Rio Pardo, em 30 de abril de 1838, junto a Davi Canabarro, Bento Manuel e João Antônio da Silveira, derrotou os legalistas, comandadados por Sebastião Barreto Pereira Pinto e os brigadeiros Francisco Xavier da Cunha e Bonifácio Calderón. Em 18 de junho de 1840, acampado perto do Arroio Velhaco, foi atacado de surpresa por Francisco Pedro de Abreu e perdeu diversos homens, inclusive o coronel José de Almeida Corte Real, um dos melhores oficiais farroupilhas.[2]
Abolicionista ferrenho, foi morar no Uruguai após a guerra, com os negros que o acompanharam por livre vontade e onde continuou com a criação de gado.
Retornou à luta em 1851, na Guerra contra Rosas, com sua cavalaria na brigada de Voluntários Rio-Grandenses, organizada inteiramente à sua custa, o que lhe valeu a promoção a brigadeiro Honorário do exército, e a transformação de sua brigada em Brigada de Cavalaria Ligeira.[1]
Voltou ao combate na Guerra contra Aguirre e depois, juntamente com seu exército pessoal, na Guerra do Paraguai. No comando em brigada ligeira fez a vanguarda de Osório na invasão do Paraguai, no Passo da Pátria, em 16 de abril de 1866. Sua brigada ostentava sempre, ao lado da bandeira do Brasil Imperial, o pavilhão tricolor da República Rio-Grandense. [1] Na batalha de Tuiuti, foi importante na defesa do flanco da tropa brasileiro, mas foi ferido a bala e mandado para um hospital em Corrientes, Argentina, onde morreu e foi inicialmente sepultado. Em 1966, no centenário de sua morte, seu corpo foi exumado e transferido para um mausoléu em Bagé.
Representações na cultura
O General Netto já foi retratado como personagem no cinema e na televisão
• interpretado por Werner Schünemann no filme "Netto perde sua alma" (2001)
• interpretado por Tarcísio Filho na minissérie "A Casa das Sete Mulheres" (2003).
• interpretado por Werner Schünemann no filme "O general e o negrinho" (2006)
Na literatura brasileira:
• Tabajara Ruas : Netto perde sua alma. 1.ed. Editora Record, 2001. 160 p. ISBN 8501062642
Origem: Material recolhido do livro Construtores do Rio Grande, autoria de Walter Spalding. Livraria Sulina Editora, 1969.
Publicado em 29/05/2001.
retirado de: http://retalhosdoriogrande.blogspot.com/
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