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sábado, 4 de setembro de 2010

Paiani: “Yeda e chefe da Casa Civil foram avisados do que ocorria nos subterrâneos do Palácio”

Paiani: “Yeda e chefe da Casa Civil foram avisados do que ocorria nos subterrâneos do Palácio”

 Por Adão Paiani
Nunca, na história do Rio Grande, um governo caminhou para o seu final de uma forma tão vergonhosa quanto este comandado por Yeda Rorato Crusius. E olha que já se viu muita coisa por esses pagos em mais de 200 anos de história.
Nem toda a cumplicidade de uma mídia comprada a peso de ouro – o que agora se comprova em parte com o revelado pela Operação Mercari, da Polícia Federal – é capaz de continuar escondendo uma realidade que há muito é percebida por qualquer um que tenha um mínimo de compromisso com a verdade, decência e ética que devem nortear a condução dos negócios do Estado: o Rio Grande do Sul está nas mãos de uma quadrilha de saqueadores.
Obviamente, o assalto aos cofres públicos não começou com Yeda e sua camarilha, mas por ela foi mantido e ampliado. A Governadora do Estado do Rio Grande do Sul herdou práticas, as aprimorou, e se beneficiou delas. O que houve, em verdade, foi apenas uma troca de comando; os operadores continuaram os mesmos e as práticas adquiriram; sob a condução do tucanato-yedista; uma organização ainda mais empresarial.
Ao dizer isso, não me refiro apenas aos escândalos do Detran ou Banrisul, e a tudo que vem sendo, exaustivamente, denunciado nos últimos quatro anos; mas também às práticas agora mais do que comprovadas de espionagem e utilização das estruturas de segurança do Estado para chantagem e pressão política sobre adversários e até contra aliados políticos. Algo que igualmente já existia, mas ganhou proporções inacreditáveis sob o Governo Yeda.
A prisão, na manhã desta sexta-feira (03) de um sargento da Brigada Militar lotado na Casa Militar do Palácio Piratini, sob a acusação de violação do Sistema de Consultas Integradas e prática de extorsão de operadores do jogo, somente veio comprovar as denúncias que fiz em março de 2009, e que resultaram na minha exoneração do cargo de Ouvidor-Geral da Segurança Pública, por me recusar a compactuar com esse tipo de prática vergonhosa; admitida, incentivada e ordenada pela própria mandatária maior do Estado e realizada por seus agentes. No caso do sargento, mesmo denunciado pela Ouvidoria pela prática de extorsão contra bicheiros e operadores de máquinas caça-níqueis, permaneceu na ativa por ser, também, um dos operadores do sistema de espionagem.
Chega a ser uma afronta, um deboche, para com a sociedade riograndense, que um governo que tenha criado uma Secretaria da Transparência e da Probidade Administrativa tenha permitido que após mais de um ano e meio destes fatos terem vindo a público, os responsáveis pelos crimes que denunciei tenham não apenas permanecido impunes, mas continuado a realizar essas práticas.
A continuação do esquema de espionagem institucional, certamente, explica muito dos resultados na CPI da Corrupção. Muito embora todas as evidências de delitos praticados pela Governadora e seus asseclas, a bancada governista da Assembléia e alguns de seus aliados ocasionais escolheram varrer para debaixo do tapete da impunidade os crimes praticados; mesmo com todo o esforço de uma valente bancada oposicionista, comprometida em esclarecer a verdade dos fatos.
No caso específico da espionagem praticada de dentro do Piratini, os responsáveis, obviamente, não são apenas o sargento, preso esta manhã, ou o major que o comandava, igualmente lotado na Casa Militar, mas a própria Governadora do Estado, Yeda Crusius, seu Chefe de Gabinete, Ricardo Lied, o então Chefe da Casa Civil José Alberto Wenzel e o sub-chefe, hoje Secretário da Transparência e da Probidade Administrativa, Francisco de Assis Cardoso Luçardo – esse último, inclusive, teve o desplante de me processar por crime contra a honra, pelas denúncias que fiz, demonstrando sua conivência com os delitos praticados. Todos eles foram alertados por mim, por diversas ocasiões, no período compreendido entre 25 de fevereiro e 9 de março de 2009 do que ocorria nos subterrâneos do Palácio. Todos silenciaram, foram coniventes e cúmplices, e agindo assim cometeram crimes contra a administração pública.
Não poderia ser mais oportuno o momento destes fatos voltarem à tona. O Rio Grande precisa saber com detalhes as verdades que lhe foram sonegadas ao longo de diversos governos, e não apenas deste; para bem avaliar as opções que lhe estão sendo postas no atual processo eleitoral. Ou encaramos as verdades inconvenientes que nos estão sendo mostradas, ou vamos permanecer espoliados e corrompidos, mais do que em valores, mas em nossa própria honra, auto-estima e dignidade.
A hora da verdade, enfim, chegou.
(*) Advogado, Ex-Ouvidor da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio Grande do Sul
Marco Aurélio Weissheimer.

 

Fraude no Banrisul: ex-tesoureiro da campanha de Yeda Crusius volta ao noticiário

by Marco Aurélio Weissheimer.
Por Marcelino Korst
Rubens Salvador Bordini, ex-aluno da governadora Yeda Crusius na Faculdade de Economia, é um nome que já surgiu várias vezes no noticiário sobre escândalos envolvendo o governo tucano. Quinta-feira (2), quando estourou mais uma denúncia de fraude, a imprensa procurou mais uma vez Bordini em busca de explicações. A notícia do dia foi a existência de uma quadrilha que estaria agindo a partir do departamento de marketing do Banrisul. Bordini, além de vice-presidente do banco, é responsável pela Diretoria de Gestão da Informação e Marketing.
Segundo ele, a diretoria do banco jamais tomou conhecimento das irregularidades. Contudo, um dos funcionários presos era ligado à Superintendência de Marketing do banco e, portanto, estava diretamente subordinado a Bordini. Teria sido, por acaso, indicado por ele para a função? Se não foi Bordini, quem indicou o referido funcionário para um cargo no Banrisul que possibilitava mexer com milhões de reais?
Bordini, cabe lembrar, foi o tesoureiro da tumultuada campanha de Yeda na eleição para o governo do Estado em 2006. Em 1º de outubro de 2009, foi notícia, por exemplo, na Folha de São Paulo, que publicou:
“…não é a primeira vez que Paulo Feijó (vice-governador do Estado) denuncia a suposta existência de caixa 2 na campanha que integrou. Em maio deste ano, ele disse que o tesoureiro da campanha, Rubens Bordini, recebeu em mochilas, dinheiro vivo não contabilizado. As acusações de financiamento ilegal da campanha tucana são objeto de análise pela Procuradoria Geral Eleitoral.”
Aliás, outra pergunta que não cala: como anda esta investigação?
O nome de Bordini aparece também numa conversa entre o lobista Lair Ferst e o ex-embaixador do governo Yeda em Brasília, Marcelo Cavalcante, cuja morte no Lago Paranoá, nunca foi devidamente esclarecida (afinal, o que aconteceu com Marcelo?). Vale lembrar que Lair e Marcelo atuavam, ao lado de Bordini, na arrecadação de fundos para a campanha de Yeda. Recordando o que eles disseram:
Marcelo CavalcanteAconteceu o seguinte: depois da reunião, tá, aí ficou agendado para ir a Santa Cruz fazer o recebimento do dinheiro, aí como tu sabe. Aí, eu fiquei responsável por definir quem ia, arrumar o carro para ir lá buscar. Aí arrumei o carro e tudo o mais. E aí colocamos o Alexandre Moreira, que é da mais alta confiança também, da campanha, né? E o Alexandre foi lá, eu acho que com o capitão Gustavo, que era o…
Lair FerstAh, é, do Zé Otávio.
CavalcanteÉ, o cara… capitão do…
LairCapitão da Brigada.
CavalcanteDa Brigada.
LairInstituto José Otávio. É…
CavalcanteEntão, foi lá o Alexandre com o capitão Gustavo no início da tarde. E a informação que tive é que foi tudo certo. Voltaram no final do dia, né? Passaram lá o recurso para a tesouraria…
LairAgora, engraçado, né? O (Rubens) Bordini está dizendo que o dinheiro foi entregue pra Walna (Vilarins Meneses).
CavalcanteÉ, o Alexandre me falou que foi entregue pra Walna e pro Bordini.
LairÉ. Agora o Bordini tá dizendo que o (Carlos) Crusius levou o dinheiro para a casa da governadora. Diz que não tem dinheiro para pagar as contas.
Esta escuta, e outras mil, serviram de base para que o Ministério Público Federal incluísse Bordini entre os réus de ação movida também contra a governadora Yeda, por improbidade administrativa. Yeda integrou a lista de indiciados pelo MPF que incluiu também o diretor de Gestão da Informação do Banrisul, Rubens Bordini e os deputados José Otávio Germano, Luiz Fernando Zachia e Frederico Antunes. As acusações foram baseadas na análise de documentos da Operação Rodin e de escutas de outras investigações, entre elas, a Operação Solidária. Ao todo, 20 mil gravações.
Se Yeda tivesse atendido a exigência do movimento sindical bancário logo após o anúncio da ação do MPF, talvez hoje seu governo estivesse um pouco menos vinculado a mais um escândalo. Os bancários do Banrisul fizeram um protesto em frente ao edifício-sede do banco, no centro de Porto Alegre, e destacaram que a imagem do Banrisul, que completava 81 anos naquele mês de setembro, não poderia ser atingida pela conduta ilícita de um gestor.
O secretário-geral do SindBancários e funcionário do Banrisul, Fábio Soares Alves, destacou, na época, que para ocupar um cargo de relevância dentro do banco, o candidato é submetido a diversas exigências. “Então, uma pessoa acusada de improbidade administrativa não pode continuar ocupando a vice-presidência. Estamos aqui na frente da sede para pedir em alto em bom som: Sai Rubens Bordini.”
Bordini não saiu. E voltou ao noticiário. Mais uma vez.


Zero Hora (pra variar) briga com os fatos

by Marco Aurélio Weissheimer.
O jornal Zero Hora não cansa de se superar na arte de brigar com os fatos. Na noite desta quinta, a manchete do site de ZH é: “Banco Central isenta direção do Banrisul de supostos desvios”. O tema da matéria é uma nota divulgada pelo Banco Central sobre as irregularidades no banco. Só que a nota em questão não isenta a direção do banco de coisa alguma. Ela afirma que “até agora as informações de que dispõe não apontam o envolvimento da alta administração”, mas que, “na eventualidade de vir a verificar irregularidades que constituam crime de ação pública, será obrigado a comunicar ao Ministério Público Federal”.
O teor da nota é quase acaciano, dizendo apenas que até agora o Banco Central não tem informação sobre o envolvimento da direção do banco nas irregularidades, mas se tiver no futuro terá que comunicar o caso ao MP Federal. De onde isso significa “isentar”? Na tarde desta quinta, era visível e audível o desconforto do jornalista Lasier Martins no acompanhamento da coletiva das autoridades do MP Estadual, do MP de Contas e da Polícia Federal. Primeiro estava preocupado em questionar o porquê do envolvimento da Polícia Federal. Informado sobre os indícios de lavagem de dinheiro e de evasão fiscal, mudou de assunto. Passou então a falar dessa “onda de desvios de dinheiro público que assola o Brasil”. E essa gente ainda quer ser levada a sério…
O sr. Lasier Martins e seus patrões podiam aproveitar toda essa preocupação com a lisura no trato com o dinheiro público e informar à população quanto seus veículos receberam de publicidade do Banrisul nos últimos anos. Ou esse uso do dinheiro público não é de interesse público?

As situações não são iguais, Jefer. No caso da RF, um contador, mutreteiro, logrou uma funcionária concursada, de carreira, com uma procuração falsa e obteve cópias da declaração de IR de Verônica Serra. Não houve roubo de dinheiro público, ocorreu crime por quebra de sigilo financeiro, praticado pelo contador e não por agente público. A agente pública ludibriada, que não praticou crime nenhum (foi vítima de um falsário), é concursada, não foi indicada política nomeada por Lula, nem por Mantega. Muito menos por Dilma. No caso do Banrisul, e isso é notório, houve ROUBO de dinheiro público, através de manipulação de licitações e contratos de publicidade. As provas são até constrangedoras - pilhas de dinheiro! O diretor preso,Valnei Fehlberg, agente público nomeado para o cargo por Yeda,já tinha sido preso pela PF, em junho passado, por evasão de divisas. Continuou no cargo, e foi preso novamente (com mais dinheiro ilícito) por roubo, formação de quadrilha e evasão de divisas. O que fez Yeda? Criticou a PF, como se a PF tivesse obrigação de entrar em férias no período eleitoral, deixando os corruptos à vontade... Não são situações iguais, nem um pouco.


O editorialista de ZH está bem baratinado


Cada vez mais se entende o que são os "comportamentos periféricos para enuviar a opinião pública"

O editorialista da edição de hoje do jornal Zero Hora está visivelmente baratinado. Chega a afirmar que o maior acionista do Banrisul é o governo. Nenhum governo é acionista de porcaria nenhuma. O acionista, no caso, é o Estado do Rio Grande do Sul. Governo é o coletivo de administradores (ou saqueadores), eleitos ou não, responsáveis passageiramente pela gestão do Estado.

Mas é compreensível a desorientação mental do nosso editorialista de ZH.

O objeto do desvio de cerca de 10 milhões de reais dos cofres públicos do Banrisul são as rubricas de publicidade e propaganda da instituição bancária estatal.

O curioso é que o editorial de ZH não faça nenhum nexo - no sentido de negá-lo de forma cabal - entre os crimes do Banrisul e o fato de o grupo RBS ser o principal arrecadador de verbas publicitárias do setor público estadual. O montante mais expressivo destas verbas - pelo menos no governo Yeda - tem saído do orçamento do Banrisul, sempre generoso com as tradicionais empresas midiáticas do RS. Agora, o mínimo que se espera destas empresas, em especial, da RBS, é que condenem os crimes publicitários dos empregados do banco (nomeados pelo governo Yeda, segundo indicação do PMDB, PP e PSDB), e demonstrem que repudiam tais práticas criminosas.

Caso contrário, aos olhos da população pode prevalecer os termos da denúncia ao Judiciário oferecido pelo Ministério Público Federal, por ocasião da Operação Rodin, em 15 de maio de 2008. Na página 56 desta denúncia do MPF pode-se compreender os fatos que ora ocorrem no Banrisul, especialmente neste trecho:

"Ao lado disso, os denunciados integrantes da quadrilha não descuidavam da imagem dos grupos familiares e empresariais, bem assim da vinculação com a imprensa. O grupo investia não apenas na imagem de seus integrantes, mas também na própria formação de uma opinião pública favorável aos seus interesses, ou seja, aos projetos que objetivavam desenvolver. A busca de proximidade com jornais estaduais, aportes financeiros destinados a controlar jornais de interesse regional, freqüentes contratações de agências de publicidade e mesmo a formação de empresas destinadas à publicidade são comportamentos periféricos adotados pela quadrilha para enuviar a opinião pública, dificultar o controle social e lhes conferir aparente imagem de lisura e idoneidade."

A cada escândalo do governo Yeda, com o passar do tempo e a monótona sequência dos fatos escandalosos e chocantes, cada vez faz mais sentido a então enigmática expressão do MPF, os famosos "comportamentos periféricos para enuviar a opinião pública".

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