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quarta-feira, 30 de abril de 2008

DIA DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA



Sempre, ao se aproximar do 1º de Maio, aparecem manifestações a respeito da data “comemorativa” do Dia do Trabalhador, aliás, como em qualquer data comemorativa ou feriado, políticos colocam notas em jornais e empresas homenageiam seus “colaboradores”. Enfim, é o dia dos trabalhadores e precisa ser “comemorado”. Como? Comemorado? Ora, se bem me lembro, a data surgiu para lembrar ao mundo a violência cometida contra trabalhadores na cidade de Chicago nos EUA em 1886.
Então a pergunta é: 1º de maio, dia do trabalho ou do trabalhador? Num primeiro momento parecer ser uma pergunta banal, mas na verdade, esconde uma intenção deliberada de mascarar ou esconder o real significado desta data para os trabalhadores. Uma data que poucos trabalhadores realmente sabem a sua origem, mas que os governos e a burguesia conhecem bem e por isto fazem este teatro de parabenizar, homenagear e enaltecer o trabalho ao bom estilo do pão e circo dos romanos. Fazendo isto aliviam sua culpa, não pelo fato que originou a data, mas pelo que continua acontecendo ainda hoje com os trabalhadores: mutilações, fome, miséria e guerras. Tudo em nome da acumulação de riqueza por alguns em detrimento da maioria da população mundial.
Os adoecimentos em função do trabalho (tanto mentais quanto físicos), os baixos salários, as perseguições quando os trabalhadores tentam se organizar para reivindicar melhores salários e condições de trabalho são constantes nas empresas. Os trabalhadores que fazem greves, que se mobilizam são taxados de baderneiros, atrasados, agitadores e radicais. Na verdade, os radicais são aqueles que em maio de 1886 mandaram assassinar os trabalhadores em Chicago, que em março de 1857 incendiaram uma fábrica têxtil cheia de mulheres, trabalhadoras que estavam protestando (hoje as mulheres trabalhadoras lembram esta data como dia de luta e luto, enquanto as burguesas fazem desfiles de moda e comemoram com chás reverenciados pelas colunas sociais). Radicais são aqueles que promoveram os massacres operários de Rio Grande em 1950, e de Santana do Livramento, ocorrido em 1951, quando a polícia espancou e metralhou os trabalhadores.
Em Chicago, assim como no resto do mundo, muitos donos de fábricas eram prepotentes e racistas e tratavam seus empregados como máquinas humanas. O dia-a-dia dos operários nessas fábricas era idêntico ao dos trabalhadores europeus: horas intermináveis de trabalho e recebiam salários que mal davam para alimentar uma única pessoa. Os locais de trabalho eram sujos, sem ventilação e faltavam banheiros. A disciplina era extremamente rígida. Um capataz vigiava de perto os trabalhadores e ao cometerem a mínima falta, como deixar a janela aberta, estar sujo, lavar-se no trabalho, assoviar ou cochichar no serviço, resultava em multa. As multas eram descontadas dos salários, o que tornava a situação do operário ainda mais difícil. Para diminuir os gastos e aumentar seus lucros, os donos das fábricas preferiam o serviço de mulheres e de crianças ao dos homens. No início, buscavam essas crianças nos orfanatos. Com o tempo, passaram a empregar os filhos de operários, cuja idade variava entre sete e quinze anos. Era normal uma criança trabalhar quatorze horas por dia, correndo sempre o risco de perder um dedo, mão ou braço ao lidar com as máquinas.

Estes lamentáveis momentos históricos revelam a brutalidade com a qual sempre foram tratados os trabalhadores. Se fôssemos aqui enumerar todas as formas de opressão e exploração que aconteceram e ainda acontecem (ex: trabalho escravo em São Paulo, nos canaviais, nas minas, fazendas), faltaria espaço. Infelizmente, estes crimes nunca foram punidos.
Portanto, não é uma data a ser comemorada, mas lembrada, um dia de luto em memória dos que morreram lutando por melhores condições de vida e de trabalho e que passados 120 anos percebemos que muito pouco ou quase nada mudou. Os trabalhadores continuam sofrendo as conseqüências das precárias condições de trabalho, as chamadas doenças ocupacionais estão aí para comprovar, principalmente as LER/DORT, mas também as doenças psíquicas oriundas da pressão exercida no cotidiano dos trabalhadores e os acidentes de trabalho continuam mutilando e matando mais que qualquer outra causa.
Os salários cada vez mais achatados e com as inovações tecnológicas e novas formas de gestão (para aumentar os lucros), o desemprego como naquele tempo e talvez ainda de forma mais aguda atinge os trabalhadores. As condições de vida, moradia, transporte, atendimento a saúde, continuam muito precárias, basta dar uma volta, pela periferia de Santa Cruz do Sul e iremos comprovar isso. Este é o cenário que os trabalhadores encontram no seu dia a dia, e que não é mostrado, e, quando se fala nisso é no sentido de culpar os direitos conquistados com muita luta pelos trabalhadores e fazer campanha para a sua retirada. A mídia tem papel importante neste contexto, embora no início do século XX os gráficos e jornalistas estivessem sempre na organização dos protestos, hoje não se reconhecem como trabalhadores e fazem o jogo do capital, escondendo ou dando um enfoque diferente para a data. Cabe lembrar que muitos jornalistas morreram nas mãos da “polícia dos patrões”.
E se não bastasse isso tudo ainda temos a mudança de Dia do Trabalhador para Dia do Trabalho. Bem, posso estar ficando louco, vão dizer alguns, mas o que tem isso demais?
Eu respondo: muita diferença e não é apenas de grafia, é política e ideológica e começa já no começo do século XX quando se institui no Brasil o feriado do 1º de maio, não com o intuito de lembrar a data como sendo de luta e de reflexão, mas para glorificar o trabalho. Esta data até pode ser comemorada, mas acima de tudo ela deve ser de reflexão, de luto, chorada por todos os que querem um mundo sem desigualdades.
Aponta-se que o caráter massificador do Dia do Trabalho, no Brasil, se expressa especialmente pelo costume que os governos têm de anunciar neste dia o aumento anual do salário mínimo.
Encerro este texto com a citação de trecho de um dos poemas de Lilá Ripoll homenageando os trabalhadores assassinados nos massacres acontecidos em Livramento e Rio Grande:
Morreram? Quem disse, se vivos estão!
Não morre a semente lançada na terra.
Os frutos virão.
Morreram? Quem disse, se vivos estão!
As flores de hoje, darão novos frutos.
Meus olhos verão.