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quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Uma nova relação bilateral

FERNANDO LUGO Essa nova orientação da política externa do Paraguai dará vida a uma agenda nova e positiva na relação bilateral com o Brasil A ELEIÇÃO presidencial paraguaia do último 20 de abril foi considerada pela opinião pública nacional e internacional como um verdadeiro feito histórico. Significou um profundo encontro geracional de dignidades que apostam na mudança estrutural que o Paraguai do século 21 exige. Surgiu da resistência de milhares de homens e mulheres que cultivaram a força moral necessária para produzir as transformações reais de que o Paraguai precisa para resolver os problemas fundamentais da exclusão, pobreza e injustiça social que atingem a maioria do nosso povo. Em 15 de agosto, na cerimônia de posse como presidente da República do Paraguai, afirmei que estávamos convocados a reconstruir o sonho de José Gaspar Rodríguez de Francia (1766-1840). O projeto de independência política que se iniciou em 1811 foi violentamente interrompido. Longe de ter sido superada essa interrupção, ela foi se agravando. É assim que o monopólio do poder dos últimos 60 anos terminou por colocar o Paraguai em uma situação de debilidade interna, dependência estrutural, vulnerabilidade externa e com a fama internacional associada à corrupção. O Paraguai transformou-se em um país isolado da comunidade internacional, associado às políticas mais conservadoras, com governos concentradores e excludentes e sem nenhuma convicção para defender os interesses nacionais. Apesar da frustração geral -depois de quase 18 anos de transição rumo à democracia-, o povo deu uma lição fundamental que nos permitiu afirmar naquele dia: "Hoje termina um Paraguai excludente, um Paraguai segredista, um Paraguai com fama de corrupção; hoje se inicia a história de um Paraguai cujas autoridades e população serão implacáveis com os ladrões do seu povo, com as ações que turvam a transparência e com aqueles poucos donos feudais de um raro país do passado encravado no presente". Confiamos que, por meio do diálogo, da solidariedade e da cooperação internacional, nosso país estará em condições de se reinserir no mundo globalizado priorizando seus interesses nacionais, fortalecendo sua soberania e a integração regional e construindo com outros Estados um projeto de cooperação humanitária. Nesse mundo em transição, não é concebível uma política externa sem uma mudança profunda de nossa política interna. O Paraguai precisa da cooperação internacional em razão de suas prioridades socioeconômicas, do desenvolvimento e fortalecimento de suas instituições e da atenção preferencial aos setores mais vulneráveis, aos quais historicamente negou uma existência digna. A desarticulação hegemônica do sistema internacional e a emergência no Paraguai de uma pluralidade de forças que têm uma grande esperança na solução dos problemas nacionais e confiança no novo governo colocam a necessidade de uma reestruturação da agenda internacional que inclua a defesa de sua soberania, a independência de suas decisões, a recuperação de seus recursos estratégicos e a segurança de sua cidadania. Essa nova orientação da política externa do Paraguai dará vida a uma agenda nova e positiva na relação bilateral com o Brasil. É nesse sentido que, entre outros temas, propusemos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva reorientar Itaipu rumo ao novo tempo da integração, reparando o tratamento iníquo, ineficiente e corrupto que promoveram as ditaduras militares do passado. Se um tratamento mais justo em Itaipu trará ganhos para o Paraguai, também trará benefícios para toda a região -e, em particular, para o Brasil-, que terá um vizinho sem tantos problemas nem convulsões sociais e com oportunidades de investimento. Desejamos construir com o Brasil e outros atores do cenário regional uma política internacional que nos permita integrar um projeto coletivo, estabelecer vínculos com os diferentes blocos regionais e responsabilidades compartilhadas com aqueles países com os quais temos laços históricos, geográficos e culturais. Inspirados pela esperança de nosso povo e pela confiança na solidariedade internacional, o governo desse novo Paraguai aspira a encontrar no entorno regional e internacional clima propício para diversificar nossas relações econômicas, impulsionar acordos comunitários e assumir responsabilidades de acordo com a geografia ou os laços de cultura e amizade, relações que sejam compatíveis com a defesa dos interesses nacionais e os valores superiores da humanidade. FERNANDO LUGO MÉNDEZ , 56, licenciado em ciências religiosas, ex-bispo da Diocese de San Pedro (1994-2005), é o presidente da República do Paraguai.

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