Produção cultural, eventos e festivais de música. Planejamento Estratégico e Operacional, Formação política, para sindicatos e ONGs

quarta-feira, 20 de maio de 2009

O Risco Tucano A aprovação na noite de sexta-feira do dia 16/05 da CPI da Petrobrás é reveladora de dois elementos no enfrentamento das forças políticas do país em suas movimentações para a sucessão do governo Lula. O primeiro é a incapacidade do campo conservador liderado pelo tucanato em encontrar uma pauta positiva para disputar na sociedade a sucessão. O segundo é a dificuldade do governo em enfrentar a ofensiva da oposição e da mídia, a partir da sua base institucional e parlamentar. O campo formado pelos principais partidos de oposição, PSDB e DEM, apoiados pelo PPS e por importantes lideranças regionais de partidos da base do governo, buscam unificar uma única candidatura para essa disputa, a do governador de São Paulo, José Serra. Se a candidatura alternativa para esse projeto do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, já gera problemas, o maior deles é apresentar uma pauta própria com capacidade de polarização social que sintetize uma visão distinta da atual política em curso assim como construir uma pauta negativa para o Governo Lula. Já é percebido no ninho demo-tucano, que o atual índice de intenção de votos detectado pelas pesquisas de opinião de aproximadamente 40% da candidatura Serra, não se sustenta até o início da campanha eleitoral em 2010. O crescimento da possível candidata do PT, Dilma Rousseff, é sólido e constante. Quanto mais o nome de Dilma é associado ao de Lula e as realizações desse governo, mais ela cresce. A luz vermelha ascendeu no campo conservador, uma possível vitória de Dilma sinalizará a consolidação de um projeto político para o país, o projeto do PT, e de longa duração. O vislumbre desse cenário é o que organiza a ofensiva em curso dos partidos e lideranças neoliberais com o apoio da mídia conservadora. A maior dificuldade deste setor é exatamente de construir uma plataforma que tenha apoio social e ao mesmo tempo seja distinta da atual política do Governo Lula. Como tinham dificuldades em bater de frente com a política econômica, a principal alternativa ao longo dos últimos anos foi associar o governo ao desperdício e ineficácia na gestão e ao assistencialismo nas políticas sociais. Bateram fundo nessas teclas. Foram derrotados com esse discurso em 2006, mas mantiveram a mesma crítica para o segundo governo, até por falta de alternativa. Com a crise internacional de 2008 e com ela a revelação da falência da visão de estado mínimo como modelo de “gestão eficiente”, ficou muito difícil apresentar outro paradigma com comprovado êxito em algum país desenvolvido, para se contrapor de forma global ao modelo de gestão de estado que se inicia no Brasil. Na área social mais um percalço ao projeto conservador, da insistência em rotular os programas sociais como assistencialistas, em particular o bolsa família, começam a migrar para outra abordagem. Passam a assumir esses programas como um avanço, é claro que “com origem” no governo FHC, e que vão avançar nessas políticas... É muito pouco para rivalizar com a política atual em curso, mas sobram poucas alternativas, pois não há discurso que organize na atual conjuntura uma antítese a ela. Em face dessas dificuldades, ao final de 2008 surgiu uma esperança: a crise internacional. Enfim uma oportunidade. A crise chegaria aqui e desarrumaria a economia do Brasil. De um ciclo de crescimento consistente para o caos, a tese do quanto pior, melhor. Mas não previam a reação do governo. Imaginavam um freio nos investimentos em infra-estrutura e na área social. Mas ao contrário do previsto foi reafirmado a manutenção do PAC, a redução do IPI para automóveis e alguns produtos, o Programa Nacional de Habitação, o aumento da cobertura do bolsa-família e do salário mínimo. Pior, junto a tudo isso a imagem do Lula: “Ele é o cara”. A CPI da Petrobrás é o abraço dos afogados. É o que resta. Atacar o governo em um elemento subjetivo e paralisar a gestão num período de enfrentamento da crise. Rememorizar a crise de 2005 e apontar para o maior símbolo público brasileiro, a Petrobrás. É mais uma CPI dentre tantas nesse governo, um recorde histórico, mas essa é especial. Desprovida de foco determinado e instalada em surdina por alguns senadores tucanos em sessão semi-clandestina, esta CPI parece ser a última munição, e como tal deve ser tratada pelas forças políticas e sociais que dão sustentação ao Governo Lula. A mídia conservadora não terá dúvidas. Todo o papel que tem cumprido em distorcer os fatos, mentir, exagerar meias verdades, estampar uma manchete negativa na capa e suavizar no conteúdo da matéria, é um forte indicativo de que não se furtará em botar toda a sua rede de inteligência para levantar todo e qualquer tipo de irregularidade, por menor que seja para construir uma atmosfera de “corrupção generalizada” na maior empresa brasileira. Já podemos imaginar as manchetes sensacionalistas semanais. A mesma mídia que se recusa a destacar as sólidas denúncias contra a governadora tucana do Rio Grande do Sul ou de investigar as denúncias de caixa dois levantadas recentemente pela Polícia Federal no escândalo da Camargo Corrêa e do financiamento das eleições do prefeito e de inúmeros vereadores nas últimas eleições na cidade de São Paulo. As forças populares e de esquerda não podem ficar paralisadas diante desta ofensiva. Um dos elementos importantes desta conjuntura é a incapacidade do governo em operar respostas a altura das provocações da direita neoliberal a partir da estrutura oficial do governo e em particular da sua frágil base parlamentar. Os interesses fisiológicos da tradição dos partidos de centro e de direita que compõe a base do governo impossibilitam uma resposta à altura. A permanente troca de favores e benesses exigida para a votação em qualquer medida central de interesse do governo dá a medida da fragilidade dessa base. Foi assim na votação da CPMF e agora também. O episódio de moralização na gestão da Infraero é um bom exemplo dessas dificuldades, a necessidade permanente do governo de referendar medidas positivas na eficiência e transparência da gestão e ao mesmo tempo equilibrar as tensões de sua base parlamentar. Esse tem sido o maior dilema do governo e a principal causa de suas dificuldades. O comportamento por interesses menores desses setores na bancada federal e em particular no Senado, só tende a aumentar no próximo período, e crescerá na aproximação do calendário eleitoral. O melhor cenário para esses parlamentares é a indefinição para a sucessão. É no equilíbrio das forças em disputa que se valorizam, de um lado e de outro. Cobram uma fatura aqui e outra acolá, sem compromisso formal de que lado estarão no momento final da disputa. Logo, não é dessa base que se pode esperar uma verdadeira defesa do Governo Lula, e ela é necessária já. Chegou o momento de botar o bloco na rua. O único agente político com capacidade de responder a ofensiva neoliberal é o povo brasileiro. Se a direita quis antecipar a sucessão com a provocação antipatriota de convocação da CPI da Petrobrás, vamos à luta, mas a luta a ser proposta não é a de gabinetes, onde eles são fortes. É na rua, o palco que eles odeiam. Cabem ao movimento social, suas centrais sindicais e populares, aos partidos e segmentos partidários que apóiam verdadeiramente esse governo, em particular o PT, de organizar um amplo movimento nacional “Em Defesa do Governo Lula e das Conquistas do Povo Brasileiro”. Iniciar manifestações populares em defesa da Petrobrás e um grande ato público em Brasília no dia da instalação da CPI. Difundir ao povo brasileiro os avanços desse governo e denunciar os vários escândalos envolvendo a oposição conservadora. Não é mais possível sustentar esse governo através da ação parlamentar, inclusive para se garantir um amplo leque de forças políticas no apoio a candidatura do PT é necessária uma sólida consciência popular fruto da mobilização social em defesa dos seus interesses. O ano de 2009 pode ter essa marca, o ano do despertar de uma consciência cidadã brasileira na defesa das suas conquistas e da sua soberania. Beto Bastos

Nenhum comentário:

Postar um comentário