Kadafi conclama o povo a uma Marcha Sagrada em defesa da Nação:
“Querem tirar o nosso petróleo, nossa liberdade, destruir a Líbia”
CARLOS LOPES
Querem impor o colonialismo, quando 90% do petróleo ia para empresas americanas. Agora, 90% fica com o país e 10% para as empresas, alertou o líder líbio
Daquela fauna da Fox News até o Wall Street Journal, da CIA até o Pentágono, passando pela papagaiagem de Hillary Clinton – e da arraia miúda dos Ali Kamel & quejandos – os gorilas estão muito assanhados com os acontecimentos (sobretudo com os fabricados por eles mesmos) na Líbia.
“Dizem que eu ando na Venezuela... Deus! A primeira necessidade dessa gente é a mentira. Estou aqui, ao contrário do que afirmam as emissoras dos cachorros”, disse Muammar Kadafi na terça-feira, discursando nas edificações bombardeadas pelos EUA em 1986, quando assassinaram inclusive crianças – entre elas uma filha do líder líbio.
Realmente, a mídia já descambou para a galhofa: as vítimas vão de 50 pessoas até 10 mil. Viram Kadafi na Venezuela e um bombardeio em Trípoli que jamais aconteceu (ver as declarações do embaixador brasileiro nesta página). E até agora não apareceram as manifestações, exceto a favor da Revolução. O que conseguiram foi uma ou outra turba – uma das quais exibia um cartaz em inglês: “O petróleo para o Ocidente” (“Oil for The West”).
Kadafi tem muito mais credibilidade, por tudo que já fez (e por tudo o que esses falsários já fizeram): “Os que morreram eram policiais e soldados. Não usamos a força ainda, mas o poder do povo líbio a usará, se necessário. Se as coisas chegarem a esse ponto, a força será utilizada de acordo com o direito internacional, a Constituição e as leis”.
A questão é, exatamente, quem são os arruaceiros. Kadafi tem bastante experiência no assunto – e não somente a da Líbia:
“Querem que os EUA façam na Líbia o que fizeram no Afeganistão, na Somália, no Paquistão, no Iraque. Querem impor a nós o colonialismo, mas nosso país não será um novo Afeganistão. Sou um lutador das tendas, um revolucionário. Não é possível interromper a marcha da revolução com subornos a um punhado de ratos que saltam de rua em rua na escuridão. Quem são esses ratos? Quem lhes pagou o preço? A inteligência estrangeira”.
Evidentemente, a excitação dos reacionários dos EUA e seus epígonos não é uma surpresa. Primeiro, querem abafar as notícias sobre os regimes pró-americanos que estão indo pelos ares no Oriente Médio. Segundo, a Líbia possui uma das maiores reservas de petróleo do mundo. O problema é que “querem que os EUA venham em navios para nos atacar e tomar o nosso petróleo. Não queremos o retorno da época em que 90% do petróleo ia para empresas americanas e 10% ficava com o país. Agora, 90% fica com o país e apenas 10% vai para as empresas”.
A terceira e, do ponto de vista político, mais importante razão é o próprio Kadafi. Naturalmente, não é a primeira vez que tentam eliminá-lo, desde que o capitão Muammar Al-Kadafi, aos 27 anos, liderou a Revolução Líbia, acabando com o regime pró-EUA, um milk-shake de monarquia feudal, ditadura colonial e tirania corrupta.
As bandeiras desse regime pútrido que apareceram entre os desordeiros – mostradas orgulhosamente pela TV americana – deveriam fazer com que alguns tivessem mais cautela antes de apoiar uma tentativa de golpe das mais reacionárias. Como observou Kadafi, “querem fornecer uma imagem manchada da Líbia, dizendo: ‘Olhem para a Líbia. Ela quer a colonização, quer o retrocesso, ao invés da revolução’. Porque hoje a Líbia é conhecida por todos os povos da África, América Latina e Ásia como ‘a Líbia da Revolução’. A imagem distorcida é um insulto - e nós vamos reagir já, agora, sobre o nosso solo”.
É verdade que, nos últimos anos, Kadafi e a Revolução Líbia tiveram que fazer um recuo. A Líbia é um país pouco populoso (6,4 milhões de habitantes), com um território que é mais do que o dobro do maior país da Europa Ocidental – a França. Bloqueada e bombardeada brutalmente pelos norte-americanos, acusada várias vezes de ações que nunca foram provadas, ameaçada permanentemente de invasão – e numa situação em que a URSS deixou de existir, o Iraque estava bloqueado e depois ocupado, etc., etc. - a revolução teve de recuar. Mas isso não transformou o governo líbio em reacionário, da mesma forma que, ao entregar seu dinheiro em troca da sobrevivência, uma vítima de assalto não passa a ser cúmplice do assaltante.
Há países muito maiores, mais populosos, com muito mais recursos, que não sofreram nada disso, nem estavam ameaçados, e, no entanto, recuaram para “ajustes fiscais” e outras indignidades neoliberais - até quando podiam avançar, o que não era o caso da Líbia.
Porém, o mais cínico são os vagidos supostamente “democráticos” da mídia.
Desde quando os EUA podem dar lições de democracia a outro país? Desde que “democratizaram” o Iraque? Desde quando a democracia de fancaria dos EUA, onde até as eleições tornaram-se de difícil acesso ao povo, onde nem horário eleitoral gratuito existe, onde dois ou três bancos e monopólios mandam e desmandam, e onde se dá golpes de Estado via Corte Suprema, é modelo de democracia?
Todo país tem direito a ter a sua democracia. A da Líbia é mil vezes mais verdadeira do que a dos EUA. Aliás, é até algo exagerada, ao recorrer diretamente à população, sem a mediação de nenhum partido:
“Eu e os Oficiais Livres [que lideraram a Revolução] não temos qualquer cargo. Deixamos o poder ao povo líbio, aos Congressos do Povo e aos comitês populares, que são o povo líbio. Meus colegas e eu já não somos responsáveis por qualquer coisa, exceto pegar em armas para lutar pela Líbia. Nós deixamos ao povo o Estado e o dinheiro do petróleo. Eu apoio o poder do povo e exorto o povo líbio a formar, na base, cada vez mais órgãos de poder. Nós queremos que o povo líbio assuma todo o controle da Líbia. A revolução é a consciência popular, o trabalho de construção, o respeito ao Poder Popular, aos congressos e comitês populares. Por isso ela é uma Revolução Popular. Apenas insisto que o petróleo da Líbia deve ser do povo líbio”.
Kadafi descreveu os atos de vandalismo e desordem:
“Penso que devemos publicar todos os fatos sobre a Líbia, porque, no exterior, ao invés de transmitirem a verdade, recorre-se a canais sujos que querem recuperar o que perderam. Organizações da sociedade civil e conspiração com o exterior são coisas muito diferentes. Já se viu alguém decente envolvido nesse processo? Nunca.
“Aqui e ali um pequeno grupo, encharcado pela bebida que lhes deram, invadiu delegacias de polícia; como ratos, atacaram quartéis sem tropas – como não estamos em estado de guerra, elas estavam trabalhando em nossos armazéns e acampamentos. Estávamos em segurança e paz, e se aproveitaram dessa paz e segurança para atacar tribunais e queimar os processos de seus crimes, e os postos de polícia onde corriam os inquéritos. Esses bandos, essas gangues, não representam nada, nem a milionésima parte do povo líbio. Querem cortar a eletricidade, a água, e explodir os poços de petróleo. Querem destruir o que nós construímos – e como nos esforçamos para construí-lo!”.
Kadafi encerrou seu discurso conclamando o povo líbio a resistir à tentativa de golpe:
“Famílias, juntem seus filhos, deixem suas casas, saiam às ruas, capturem os ratos, não tenhais medo deles. Querem tirar nosso petróleo, destruir a liberdade, o poder do povo, a Líbia. Vamos, se preciso, fazer uma marcha sagrada de milhões para limpar a Líbia”.
Plano dos EUA é que a Otan ocupe a Líbia
FIDEL CASTRO
O petróleo se tornou uma riqueza primordial nas mãos das grandes transnacionais ianques; através dessa fonte de energia dispuseram de um instrumento que acrescentou consideravelmente seu poder político no mundo. Foi sua principal arma quando decidiram tentar liquidar a Revolução Cubana logo que foram promulgadas as primeiras leis justas e soberanas em nossa Pátria: privá-la de petróleo.
Sobre essa fonte de energia se desenvolveu a civilização atual. A Venezuela foi a nação deste hemisfério que maior preço pagou. Os Estados Unidos se tornaram donos das enormes jazidas com que a natureza dotou a esse país irmão.
Ao final da última Guerra Mundial começou a extrair das jazidas do Irã, bem como da Arábia Saudita, do Iraque e dos países árabes situados ao redor deles, maiores quantidades de petróleo. Eles passaram a ser os principais fornecedores. O consumo mundial se elevou progressivamente à fabulosa cifra de aproximadamente 80 milhões de barris diários, incluídos os que são extraídos no território dos Estados Unidos, aos que ulteriormente se adicionaram o gás, a energia hidráulica e a nuclear. Até inícios do século XX o carvão tinha sido a fonte fundamental de energia que fez possível o desenvolvimento industrial, antes que fossem produzidos milhares de milhões de automóveis e motores consumidores de combustível líquido.
A dilapidação do petróleo e do gás está ligada a uma das maiores tragédias, não resolvida em absoluto, que sofre a humanidade: a mudança climática.
Quando nossa Revolução surgiu, a Argélia, a Líbia e o Egito não eram ainda produtores de petróleo, e grande parte das grandes reservas da Arábia Saudita, do Iraque, do Irã e dos Emirados Árabes Unidos estavam por ser descobertas.
Em dezembro de 1951, a Líbia se transformou no primeiro país africano em atingir sua independência após a Segunda Guerra Mundial, em que seu território foi cenário de importantes combates entre tropas alemãs e do Reino Unido, que deram fama aos generais Erwin Rommel e Bernard L. Montgomery.
De seu território, 95% é totalmente desértico. A tecnologia permitiu descobrir importantes jazidas de petróleo leve de excelente qualidade das quais hoje são extraídos um milhão 800 mil barris diários, além de abundantes depósitos de gás natural. Tal riqueza lhe permitiu atingir uma perspectiva de vida que alcança quase os 75 anos, e a mais alta renda per capita da África. Seu rigoroso deserto está localizado sobre um enorme lago de água fóssil, equivalente a mais de três vezes a superfície de Cuba, o que tornou possível a construção de uma ampla rede de aquedutos que se estende por todo o país.
A Líbia, que tinha um milhão de habitantes quando atingiu sua independência, tem hoje mais de 6 milhões.
A Revolução Líbia aconteceu no mês de setembro do ano 1969. Seu principal dirigente foi Muammar Kadafi, militar de origem beduína, que em sua juventude mais precoce se inspirou nas idéias do líder egípcio Gamal Abdel Nasser. Sem dúvida que muitas de suas decisões estão ligadas às mudanças que se originaram quando, tal como no Egipto, uma monarquia fraca e corrupta foi derrocada na Líbia.
Os habitantes desse país têm milenares tradições guerreiras. Há quem diga que os antigos líbios fizeram parte do exército de Aníbal quando esteve a ponto de liquidar a Antiga Roma com a força que cruzou os Alpes.
Poder-se-á ou não concordar com o Kadafi. O mundo tem sido invadido com todo o tipo de notícias, empregando especialmente os meios maciços de informação. Haverá que esperar o tempo necessário para conhecer com rigor quanto há de verdade ou de mentira, ou uma mistura de fatos de todo o tipo que, no meio do caos, aconteceram na Líbia. O que para mim resulta absolutamente evidente é que ao Governo dos EUA não preocupa em absoluto a paz na Líbia, e não hesitará em dar à Otan a ordem de invadir esse rico país, talvez em questão de horas ou em muito breves dias.
Os que com pérfidas intenções inventaram a mentira de que Kadafi encaminhava-se para a Venezuela, assim como fizeram na tarde de domingo, 20, receberam hoje uma digna resposta do Ministro de Relações Exteriores da Venezuela, Nicolás Maduro, quando expressou textualmente que fazia “votos para que o povo líbio encontre, no exercício de sua soberania, uma solução pacífica a suas dificuldades, que preserve a integridade do povo e da nação Líbia, sem a ingerência do imperialismo…”
Por minha parte, não imagino o dirigente líbio abandonando o país, eludindo as responsabilidades que lhe são imputadas, sejam ou não falsas em parte ou em sua totalidade.
Uma pessoa honesta estará sempre contra qualquer injustiça que se cometa com qualquer povo do mundo, e a pior delas, neste instante, seria guardar silêncio perante o crime que a Otan se prepara para cometer contra o povo líbio.
À chefia dessa organização belicista urge fazê-lo. É preciso denunciá-la!
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