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quinta-feira, 6 de novembro de 2008

BARAK HUSSEIN OBAMA

BARAK HUSSEIN OBAMA Laerte Braga É difícil definir no olho do furacão as conseqüências da vitória do Democrata Barak Hussein Obama nas eleições presidenciais norte-americanas. Mas não é difícil interpretar o voto do eleitorado depois de oito anos de governo de George Bush e uma crise do tamanho do Everest. De saída, então, temos que o voto em Obama e a presença maciça de eleitores (o que difere do perfil das últimas eleições) foi um voto anti-Bush. Mas terá sido um voto contra as políticas imperiais dos Estados Unidos? Outro dado relevante foi o comparecimento às urnas surpreendente de eleitores jovens, via de regra arredios ao voto, ainda mais num país onde esse direito é facultativo. É evidente que o eleitorado negro iria votar majoritariamente em Barak Hussein Obama. A eleição de Obama rompe um ciclo que parecia eterno, o de presidentes brancos. É o primeiro negro na Casa Branca e não tenho certeza se é também o primeiro norte-americano não nascido no continente (é havaiano) eleito presidente. Me parece que sim. Os Estados Unidos são uma federação ao contrário do Brasil, por exemplo, que se intitula em sua constituição República Federativa do Brasil, na prática não funciona. O Texas, por exemplo, tem um regime diferenciado dos demais estados norte-americanos. É uma república associada aos EUA sob condições peculiares e, em tese, pode sair da União quando dois terços de sua população assim o entenderem. Uma olhada no mapa daquele país e nos resultados estado a estado mostra que McCain venceu nas regiões conservadoras, não necessariamente as mais atrasadas, mas as dominadas por igrejas fundamentalistas, o que ali tem um peso notável. No início do século XX um professor por pouco não foi condenado à morte por ensinar a teoria de Charles Darwin nas escolas. Não mudou muito de lá para cá. Inspirado em um caso real o professor John Thomas Scopes foi execrado pela população do Tennessee, na cidade de Dayton. Foi em 1925 e registrou a primeira transmissão de rádio ao vivo de um fato assim. Isso foi decisivo para a que Scopes não fosse condenado à morte. Clarence Darrow, um dos maiores advogados da história dos EUA defendeu-o contratado por um jornal de Baltimore. E a acusação teve como assistente um ex-secretário de Estado e candidato duas vezes à presidência da República. McCain venceu no Tennessee e recentemente a Assembléia Legislativa e o Senado Estado de Michigan discutiam uma lei que tornava obrigatório o ensino do criacionismo nas escolas públicas. Acabou rejeitado e ali Barak Hussein Obama venceu. No estado de Utah, no centro oeste do país as leis permitem a poligamia. O estado é predominantemente habitado por mórmons. Quando do furacão que devastou New Orleans o presidente Bush foi duramente criticado por ter se omitido na defesa preventiva da cidade e depois pela demora do auxílio. A mãe de Bush, Bárbara, fez uma declaração que mostra o modo de pensar dos texanos, para onde muitos refugiados e desabrigados pelo furacão foram levados: “aqui eles estão melhor que na cidade deles. Comem três vezes por dia e têm camas e banheiros decentes”. A expressão que dá nome ao país “Estados Unidos” reflete uma realidade. Maior ainda se nos reportarmos que em sua história uma guerra civil entre sul e norte devastou a nação e mantém, até hoje, ressentimentos e questões mal resolvidas, digamos assim. A consolidação de um sentido de União veio com a crise de 1929 até o término da IIª Grande Guerra, época em que o país se transformou na superpotência que é hoje e viveu por quase 16 anos sob a presidência de Franklin Delano Roosewelt. Foram quatro mandatos consecutivos e surgiu depois dele a emenda constitucional que limitou o número de mandatos presidenciais a dois. Começa a nascer ali o conglomerado de interesses que John dos Passos havia previsto por volta de 1900 e qualquer coisa, “complexo industrial e militar” e o general Eisenhower, com a autoridade de comandante aliado na guerra contra o nazismo e presidente por dois mandatos, referendou ao deixar a presidência da República, em 1960, exatamente com John Kennedy. Muitos comparam a eleição de Obama à de Kennedy. Que mudança querem os norte-americanos? Nos jogos olímpicos de Los Angeles, em 1984, um cidadão comum entrevistado por um repórter de uma rede brasileira sobre o acontecimento foi enfático: “estou louco para acabar. Ficam esses negros circulando pela cidade, sujando as ruas, esses estrangeiros todos, somos um país civilizado”. O fim da guerra do Iraque? O fim da ocupação no Afeganistão? Na cabeça do cidadão comum dos EUA o país paga a conta do mundo. Não têm a menor noção de geografia, a imensa e esmagadora maioria população do país. Os EUA têm a maior dívida pública do mundo e também o maior poder militar dentre todas as nações. Controlam a Europa através da OTAN (Organização do Tratado Atlântico Norte), enfrentam o crescimento econômico da China e a maior presença política do país de Mao Tsé Tung, dependem de petróleo e fontes de energia dos países produtores, desenvolvem políticas de globalização que transformam pouco a pouco países como o Brasil em produtores de matérias primas, numa nova etapa do colonialismo, enfim, sustentam-se no resto do mundo. Neste momento assistem ao ressurgimento da Rússia como potência econômica e militar e carregam um aliado incômodo, porque controlado pelos grandes grupos financeiros do mundo, o Estado de Israel, uma espécie de departamento para o trabalho sujo. Mudar tudo isso é inviável. Obama não resistiria um mês. Constatar que, por si só, os Estados Unidos, hoje, são um império em decadência tanto é um sinal do voto, como é um pedido de socorro para que não falte o hambúrguer nosso de cada dia. Foi Bil Clinton quem fez o acertos com o brasileiro Fernando Henrique Cardoso para a privatização do Estado brasileiro. Enrolou FHC com a conversa fiada de tornar o Brasil uma potência mundial, garantir ao país um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU e fechou o calendário para a implantação da ALCA (Associação de Livre Comércio das Américas). Se tivesse sido implantada, a ALCA, prevista para 2005, o pré sal que é em boa parte de companhias estrangeiras, não seria nosso na totalidade. E foi o mesmo Clinton que não hesitou em mandar bombardear a antiga Iugoslávia para garantir interesses de países europeus aliados. A diferença entre Democratas e Republicanos está no fato que Democratas conhecem artefatos como garfo, faca, sabem o talher adequado para cada momento e Republicanos ainda acham que se come perna de carneiro tal e qual o faziam os velhos cowboys. E terminada a degustação limpam a boca com as costas da mão. Todo esse espetáculo montado em todo o mundo por conta da eleição de Barak Hussein Obama faz parte do show dos tempos atuais. Todo o projeto de mudanças e todas as expectativas criadas são falsas e vãs. Vai acontecer apenas um estilo diferente e o fato de um negro (o mais importante dentre todos) ter sido eleito presidente da mais poderosa nação do mundo. Barak Hussein Obama vai assumir o governo em 20 de janeiro sabendo que cada passo terá que ser pesado e calculado, pois existem minas espalhadas por todos os cantos em todo o território norte-americano. Mostrou que sabe contornar esses obstáculos desde quando derrotou Hilary Clinton na disputa pela indicação do Partido Democrata. Mostrou durante a campanha e mostrou ontem ao fazer declarações firmes, mas sem conteúdo em se tratando de mudanças. O que o norte-americano que votou em Obama espera é que as aventuras militares que custam caro e custam vidas terminem e que cada consumidor do país possa voltar a comprar no feérico mundo do capitalismo show, onde o ter é bem mais importante que o ser. E se isso depender de políticas imperiais contra governos adversários, os velhos golpes montados em nome da “democracia” se farão presentes. O problema de Bush é que nem o big stick o texano soube usar. Produto de duas fraudes vai para casa com uma rejeição de 75% dos cidadãos de seu país. Posso queimar a língua, mas Obama é apenas um produto novo na vitrine. Se movido a pilha, bateria ou chip não sei. Mas sei que tem um tempo de validade e esse tempo, quatro ou oito anos vai depender de sua capacidade de assegurar o hambúrguer a cada um dos seus compatriotas. William Bonner já pode voltar. Cumpriu com louvor sua missão de diretor do espetáculo para o Brasil e os brasileiros. Criou no cidadão médio a sensação que a eleição de Barak Hussein Obama foi um dos momentos cruciais de nossa história. Agora é esperar o Natal, o Carnaval e depois o BBB-9 com direito a quarto espelhado. Até Lula deu palpite. E já começou a esculhambação. A mídia registra que nas comemorações da vitória o presidente eleito deu um “selinho” na mulher do vice. Com relação a América Latina há, é claro, expectativas que o bom senso prevaleça e o bloqueio econômico contra Cuba seja suspenso. É uma nódoa, dentre muitas, na história dos EUA. E esperanças, remotas, que as constantes tentativas de golpes contra governos contrários às políticas de Washington, especificamente os dos presidentes Chávez, Evo Morales, Rafael Corrêa, Ortega e Fernando Lugo, respectivamente, Venezuela, Bolívia, Equador, Nicarágua e Paraguai, cessem. Sem falar é lógico, na criminosa ocupação do Haiti, da qual o governo brasileiro é cúmplice. E o famigerado Plano Colômbia. Bush durante esses oito anos de governo usou o narco/presidente Álvaro Uribe para disseminar ações golpistas e criminosas na América do Sul. Como os democratas se recusaram a aprovar um tratado de livre comércio com a Colômbia pelas constantes violações dos direitos humanos, como os democratas são maioria na Câmara e no Senado dos EUA, o que se espera é que a Colômbia deixe de ser base de operações sujas por parte de Washington inclusive usando terroristas do serviço secreto de Israel. Barak Hussein Obama não é “Deus”. E mesmo com sua descendência muçulmana não é profeta como Maomé. Logo os desafios são bem maiores do que se imagina. Um outro show vai ter que ser organizado rápido para evitar que se desvaneçam as esperanças geradas pelo espetáculo eleitoral de quatro de novembro. Às vezes, quem sabe, Pastinha consegue reconhecimento internacional e vai fotomontar a nova realidade norte-americana. É o clássico miquinho amestrado pronto a ajoelhar e lamber botas por qualquer quinhentos mil réis. Americanos adoram esse tipo de pilantra, com cabelos untados por brilhantina.

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