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terça-feira, 1 de junho de 2010

Do Palco aos Camarins do Carijo

Descobri quase que por acaso a agencia experimental de noticias dos estudantes de jornalismo da UFSM e passei a me servir dela para abastecer o blog com belos textos, no momento sobro o Carijo e espero que em brve sobre outros festivais como o Minuano daqui a a algus dias em São Pedro e por isso quero agradecer por poder fazer uso do trabalho jornalistico dessa gurizada que ta se saido muito boa.

Os sentimentos dos artistas dentro do camarim e sobre o palco na noite de decisão do 25º Carijo da Canção Gaúcha

por Carlos

Em um primeiro olhar está tudo perfeito e no lugar, mas para quem olha mais de perto é perceptível tensões, engasgos, nervosismo etc, que se expressam de várias formas. Como na música “Sopros de História” que o interprete Paulo Sérgio Almeida da Silva ouve a música iniciar e procura a força que precisa para cantar a música no público, abrindo os braços em busca de aplausos como incentivo. 
Algumas vezes era possível flagrar instrumentistas chacoalhando os ombros levemente como quem precisa tirar a tensão, ou algum sapateio discreto que não deixava ouvir o som da bota no assoalho do palco.
Cada músico preparava seu instrumento para o grande momento da noite e alguns deles pareciam usar seus violões, gaitas e baixos como escudos de proteção e armas de ataque. Os dedos percorriam os dedilhados como aquecimento, e de olhos fechados, os movimentos eram repetidos até a hora de tirar o seu melhor som. Para os interpretes, o microfone, que não deixava esconde o sorriso ansioso como o de José Ricardo Maciel Nerling, um guri de 17 anos que teve sua música classificada pela fase local.
Algumas vezes os violões pareciam se conversar, um de frente para o outro em movimentos quase involuntários dos instrumentistas que mal se olhavam, mas sentiam os acordes como se seus violões fossem eles próprios. Até mesmo um problema com o equalizador não foi capaz de separar Arthur Bonilha de seu violão de sete cordas, mesmo quando o pedido foi feito pelo júri. A música “A formação das manadas”, defendida por Bonilha, foi executada com um zunido que prejudicou levemente o som dos ponteios do instrumentista habilidoso.
A experiência e uns x pouca idade de outros. Sim, a experiência fez diferença na calma que só ela dá àqueles que sobem ao palco, tanto de instrumentistas quanto de interpretes. Enquanto isso se via nos rotos e gestos dos mais novos a tensão e a adrenalina que gerava enquanto buscavam na alma uma segurança que teimava em não acontecer. Isso fez toda a diferença no resultado e, acredite, a adrealina venceu a experiência na maioria das premiações.
Os olhos fechados e a música repetida como prece. Assim estava Adriano Alves enquanto a música era executada e ele esperava o momento de declamar seus versos. A sua voz era algo ímpar no festival todo: voz negra, forte e envolvente que combinava com toda a música intitulada “Das faces da cruz”, vencedora do melhor arranjo vocal, melhor poesia e ainda o 2º lugar de melhor música. Quando Adriano retorna do palco depois da execução da música está com o mesmo olhar tímido, de quem olha “por baixo dos olhos”, tal qual antes de subir ao palco, mas deixa escapar entre as palavras um leve sorriso que mostra o contraste de sua pele negra com o branco sorriso de dentes separados na frente.
Pode parecer loucura, mas quando chegam nos camarins os músicos estão com as gostas de suor a molhar suas testas mesmo no frio de uns 10ºC. Os olhos parecem distantes, nervosos e aliviados ao mesmo tempo. É um misto de emoções difícil de descrever. Só quem sente pode saber.
É também neste lugar reservado para a concentração dos músicos que a imprensa se aglomera e espera pelo interpretes para entrevistar. É bem verdade que todos os interpretes foram entrevistados, assim como também é verdade que nenhum instrumentista foi abordado. Pareciam seres invisíveis, eles e seus instrumentos, ou talvez pensassem que fossem mudos.
Ainda não sabia que Leonardo Paim seria o vencedor como melhor interprete quando desceu do palco após defender a canção “Plantar é gerar”. Além do suor, sua testa ostentava uma leve ruga enquanto respondia as perguntas dos repórteres das rádios atenciosamente. Parecia procurar as palavras em algum lugar ali dentro do camarim ou lá fora, não se sabe. Mas seu olhar não era mais distante e desviado do que o de Jean Kirchoff que mirava para o nada os seus lindos olhos azuis que pouco diziam sobre o que verdadeiramente acontecia.
A tensão de antes de subir ao palco não é tão diferente quanto de quando retornam ao camarim. Um misto de satisfação e insegurança a espera do resultado que está nas mãos do júri. Alguns sapateios em redor de si mesmos até caírem em si que a sua participação foi concluída e, a partir daí, decidir o que farão para passar o tempo até a hora do resultado.
Os músicos saem do local de concentração e se misturam ao grande público para assistir às apresentações que ainda restam, conversar com amigos e parentes, e ainda, beber aquela cerveja para descontrair a espera mais nervosa do 25º Carijo: o resultado final.

Josiane Canterle / Da Hora

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