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sábado, 16 de outubro de 2010

Martim César (poema vencedor do concurso Rua dos Cataventos, da sociedade Mario Quintana de poesia)

Meu primeiro livro...

Fotografia de Alencar Coelho sobre tótem 'Sangre Ameríndia' do escultor Cléber Carvalho

Quando os índios invadiram a Europa
Quando os índios invadiram a Europa
“- Como ousavam?”- Se indagaram os brancos reis
Se não tinham mais que armas antiquadas
Se em seus barcos não cabiam mais que três
Se nem sabiam que o dinheiro era preciso
Se não se guiavam nem por regras, nem por leis
Se não exploravam nem o solo, nem os rios
Se não falavam nem o básico de inglês
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Quando os índios invadiram a Europa
Todos riram: padres, nobres e plebeus
Se esses loucos não sabiam nem guerrear
E se o faziam, não lutavam por um Deus
Se só comiam o que a terra oferecia
Se não cercavam os domínios que eram seus
Se não sabiam transformar a natureza
Como podiam comparar-se aos Europeus?
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Mas eles tinham seus poderes invisíveis
E foram, aos poucos, destruindo as cidades
Plantando árvores no lugar dos edifícios
Desnudando as pessoas, chocando a sociedade
Criando um novo mundo onde todos eram livres
E em cada voz só se escutava uma verdade
Onde não havia nem mais ricos, nem mais pobres
Onde se viu o que era, enfim, a igualdade
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Sim, eles tinham seus poderes misteriosos
Seus espíritos da floresta, seus remédios naturais
Os conselhos dos mais velhos, a coragem dos seus bravos
E essa força sobre-humana dos que lutam pela paz
E desde então já não se pôde destruir por destruir
Já não se pôde exterminar ou enjaular os animais
Já não se pôde poluir o céu e as águas
E a terra fez-se pura como há muito tempo atrás
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Quando os índios invadiram a Europa
Já não mais se soube o que era lucro ou prejuízo
Pois a prata e o ouro só lhes serviam como enfeites
E o dinheiro, estranhamente, nunca mais se fez preciso
Agora, depois que os índios invadiram a Europa
Os senhores do mundo já não zombam com seus risos
E a vida corre, livre e bela, sem ter pressa
Pois desde então estamos aqui:
........................................................... no paraíso!

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