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sábado, 26 de fevereiro de 2011

Abrir os arquivos da Ditadura para garantir o Direito à memória e à verdade

CUT Sergipe repudia a postura de ex-militar que afirma que não houve tortura no Brasil

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No último dia 20, completaram-se 35 anos de um dos momentos mais atrozes da história política de Sergipe. Em 20 de fevereiro de 1976, vários militantes e ativistas políticos do estado (funcionários públicos, estudantes, profissionais liberais...), que lutavam contra a Ditadura Militar, foram seqüestrados pelas forças militares.
 
Depois de sequestrados, os militantes foram levados presos para as dependências do quartel do 28º Batalhão de Caçadores, localizado em Salvador. A Operação Cajueiro, como ficou conhecida essa ação, não era um fato isolado, mas parte do regime ditatorial que o Brasil atravessava.
 
As vítimas da Ditadura Militar brasileira foram submetidas a uma séria de torturas, cerceamento de liberdade, alguns “desapareceram”, a exemplo de Rubens Paiva, outros foram assassinados, como o jornalista Wladimir Herzog e o operário Manuel Fiel Filho.
 
Há de se ressaltar que a luta desses militantes não foi em vão. Pelo contrário. A resistência às brutalidades dos anos de chumbo foi fundamental para a abertura política e a redemocratização do país.
 
Porém, espanta saber que os atos de crueldade cometidos na Ditadura ainda estão vivos na cabeça de alguns...
 
Esta semana, o jornalista Cláudio Nunes divulgou em seu blog um email que recebeu de um ex-militar, Gilmário Dantas Nascimento, que participou ativamente das barbaridades cometidas contra lutadores e lutadoras do povo.
 
De início, o posicionamento do ex-militar mostra o quão rancorosos e arrogantes são os torturadores. Ele chega a afirmar que não houve tortura no país e que deveriam “ter baixado o cacete nessa corja que hoje saqueia o Brasil”.
 
Trabalhadores e estudantes, diuturnamente, eram espancados, recebiam choques elétricos, agressões em partes sensíveis do corpo. Se isto não é tortura, o que é então? O bravo Milton Coelho, vítima da Operação Cajueiro, perdeu a visão por ser forçado a usar óculos de borracha de pneu. Milton não foi torturado?
 
Diferentemente dos torturadores, porém, os que foram torturados não têm sentimento revanchista. Lutam, sim, pelo direito à memória e à verdade. Por isso, é fundamental a abertura dos arquivos da Ditadura Militar. Fundamental para que não percamos a nossa história, para que “as gerações atuais e as futuras não esqueçam o que aconteceu, até porque a democracia não é algo que se ganha de presente, se conquista e se conquista todos os dias”, disse o presidente da Central Única dos Trabalhadores de Sergipe (CUT/SE), Rubens Marques, conhecido como Dudu.
 
Em outro trecho do email, o ex-militar chama o Golpe de 1964 de “contra-revolução”. “Qual conceito de revolução deste militar? É tomar o poder na ponta da baioneta e levar o Brasil ao caos? Acabar com a paz e entregar o país destroçado, com uma dívida profunda junta ao FMI, que provocou miséria? Isto para Gilmário é revolução?”, questiona o presidente da CUT Sergipe.
 
O ex-militar diz ainda que as pessoas “pediam para intervir e acabar com a baderna”. Para a CUT Sergipe, o que Gilmário chama de baderna é ato cidadão, participação popular, reivindicar democracia.
A CUT Sergipe repudia a postura desse ex-militar e se posiciona ao lado dos que lutam pela abertura dos arquivos da Ditadura, para que o povo brasileiro tenha garantido o direito à memória e à verdade.
 
Para tal, desde o início de 2010, a CUT realiza uma série de Mesas de Debates sobre Direito à Memória e à Verdade, sempre com a participação para que faça um relato fiel das atrocidades que ativistas políticos sofreram.
 
“As mesas de debate têm recebido um público interessante, não só pessoas que viveram na época da ditadura, mas também os jovens que estão ligados ao movimento estudantil. Com isso, a CUT tem contribuído com a memória nacional, pois estamos mostrando para aqueles que não viveram naquela época o quanto foi e continua sendo cara a construção da democracia nesse país. Até porque a democracia se constrói no cotidiano”, enfatiza Dudu.
 
A íntegra do email do ex-militar pode ser acessada aqui.

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