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segunda-feira, 5 de julho de 2010

Joaquim Nabuco: um pensamento para entender o Brasil

Alguns dias atrás recebi um convite para falar sobre o pensamento de Joaquim Nabuco no Curso de Formação Sócio Religiosa, organizado pela Igreja Católica, Colégio Marista São Luiz e Departamento de Ciências Sociais da Unisc. Quando comecei a preparar a palestra, dei-me conta do quão pouco se conhece do pensamento dessa importante figura da história, da política e da literatura brasileira. Nas escolas de ensino médio, salvo engano meu, não se aborda o tema com a devida importância, na faculdade, não me lembro de ter sido tratado nada especifico sobre o assunto. Embora Joaquim Nabuco seja estudado por intelectuais da história e da sociologia, esse debate não é levado para dentro da escola e traduzido de uma forma que seja possível, por meio dele, compreender a formação do Brasil, mesmo que, como disse o Ministro Celso Amorim em discurso na Conferência em Homenagem ao Centenário da Morte de Joaquim Nabuco, na Academia Brasileira de Letras, em janeiro de 2010: "Sua contribuição está registrada nos livros que escreveu após 1889. Alguns deles integram qualquer lista de textos fundamentais para se entender o Brasil."

Bem, se é assim, porque a obra de Joaquim Nabuco é pouco estudada, ou seu pensamento quase não é difundido e conhecido por nossos jovens no ensino médio ou mesmo nas faculdades de Direito, Sociologia e Literatura, por exemplo?
Justamente Nabuco que pregava a necessidade de profunda reforma social para que o Brasil pudesse progredir. E, dentre os principais aspectos dessa reforma social, está a universalização da educação, reforma agrária com o fortalecimento da pequena propriedade familiar, e uma reforma tributária na qual os ricos pagassem mais impostos do que os pobres. Defendia a função social da propriedade rural como princípio, não aceitava que grandes proprietários tivessem terras sem serem cultivadas e que outras tantas pessoas não tivessem um porção de terra para produzir. Também condenava a forma de exploração da terra, feita de forma a não cuidar do solo, esgotando-o sem nenhuma preocupação em degradar a natureza.

Na verdade, o que mais conhecemos de Joaquim Nabuco é sua causa abolicionista, e pouco sabemos do quanto ele representa para a diplomacia e a política externa brasileira. Desconhecemos, de maneira geral, que foi ele verdadeiramente o primeiro a pensar um programa político, social e econômico para o País. Nabuco o primeiro a fazer um profundo diagnóstico dos problemas e da realidade brasileira e apresentar um programa de reformas que no seu entendimento colocaria o Brasil na dianteira do progresso e do desenvolvimento.

Infelizmente, cem anos se passaram da sua morte e as reformas por ele propostas ainda são necessárias. A reforma agrária, ou como ele chamava “a democratização do solo” é uma necessidade, na universalização da educação há avanços, mas é preciso melhorar, principalmente no ensino básico, é preciso valorizar o Magistério e criar condições de ensino; na questão ecológica a sua preocupação com a maneira em que o solo era explorado, com o esgotamento da fertilidade, queimadas, derrubada das matas, ainda vivemos esse drama. Parece-me que do seu legado na política externa, como embaixador, há bons frutos sendo colhidos. Nossa política externa tem seguido seus ensinamentos. Já internamente, na modernização da nação, é preciso avançar. As elites brasileiras necessitam mudar, pois ainda mantêm a mentalidade de senhores de escravos do século XIX.

Por fim, me entristece constatar que um dos homens intelectualmente mais importantes do século XIX no Brasil, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, seja considerado um literato de 4ª ou 5ª categoria, que um personagem da densidade de Joaquim Nabuco, o primeiro a fazer um profundo diagnóstico da realidade brasileira e apresentar um programa de reformas sociais, pouco ou nada seja discutido nas ciências sociais ou políticas e na história.

Trata-se de um dos maiores jornalista que já tivemos, mas sequer é lembrado nos cursos de comunicação social. Enquanto isso, muitos generais com sangue nos punhos e sujeira embaixo dos coturnos, estão ai sendo lembrados e venerados diariamente.
Iran Pas

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