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sábado, 30 de abril de 2011

É “Dia do Trabalhador”




                      Sempre, ao se aproximar do 1º de Maio, aparecem manifestações a respeito da data “comemorativa” do Dia do Trabalhador, aliás, como em qualquer data comemorativa ou feriado, políticos colocam notas em jornais e empresas homenageiam seus “colaboradores”. Enfim, é o dia dos trabalhadores e precisa ser “comemorado”. Como? Comemorado? Ora, se bem me lembro, a data surgiu para lembrar ao mundo a violência cometida contra trabalhadores na cidade de Chicago nos EUA em 1886.
                       Dia do Trabalhador. NÃO é dia do trabalho. É do TRABALHADOR. A diferença é muito grande, diferença política, não de grafia.
                     O dia 1º de maio é feriado internacional. É dia de luta e luto em vários países do mundo, dia de lembrar dos trabalhadores operários de Chicago que foram assassinados por reivindicar uma jornada de trabalho de 8 horas diárias. Dia de lembrar que os setores privilegiados se utilizam de mecanismos variados para preservar suas benesses.
                     É preciso estarmos constantemente preocupados em preservar nossa memória, a memória social, a nossa história. Nesse caso a necessidade é maior ainda, uma vez que existe, há muito tempo, um movimento deliberado para distorcer essa memória; uma distorção lenta, subliminar, pois executada não só pelos setores mais reacionários da sociedade, mas muitas vezes por partidos de esquerda e por lideranças sindicais.
                 Para muitos o Primeiro de Maio é dia de show e de sorteio de prêmios, e durante essa manifestação, ninguém fala de exploração, organização, luta, ninguém fala da história que originou o feriado.

As Origens

      "Declaramos que a limitação da jornada de trabalho é a condição prévia, sem a qual todas as demais aspirações de emancipação sofrerão inevitavelmente um fracasso"
                  Esta frase é de Karl Marx, "pai" do socialismo científico, quando da fundação da Associação Internacional dos Trabalhadores em 1866.
Há pelo menos duas décadas os trabalhadores europeus se organizavam e lutavam por reivindicações trabalhistas.
                 As primeiras e mais importantes lutas operárias se desenvolveram na Inglaterra, a partir do início do século 19, primeiro com o movimento Ludista e posteriormente com o movimento cartista, reunindo várias categorias profissionais e transformando a luta por reivindicações econômicas em lutas políticas. Foi nesse contexto que se desenvolveram os primeiros sindicatos e a primeira Federação de Trabalhadores Ingleses.
                 O "cartismo" nasceu em 1837, quando foi redigida a "Carta ao Povo", documento que continha seis pontos de reivindicação: sufrágio universal, igualdade dos distritos eleitorais, supressão do censo, eleições anuais, voto secreto, pagamento aos deputados do Parlamento.
                Desde a década de 30 os cartistas fizeram conquistas consideráveis para a classe operária como: 1º lei de proteção ao trabalho infantil (1833), lei de imprensa (1836), reforma do Código Penal (1837), regulamentação do trabalho feminino e infantil (1842), lei de supressão dos direitos sobre os cereais e lei permitindo as associações políticas (1846), lei da jornada de trabalho de 10 horas (1847).
                Em 1842, auge do movimento, foi feita uma petição que exigia o sufrágio universal e a resolução de problemas econômicos. Apesar dos 3 milhões de assinaturas que a acompanhavam, a petição foi recusada pelo Parlamento.
                Em 1848, organizou-se nova manifestação de apoio à petição, com 5 milhões de assinaturas. Londres foi ocupada pelo exército, que impediu a manifestação. No entanto, até o ano de 1858 vários movimentos grevistas serviram para organizar e dar maior consciência à classe operária inglesa.
                O ano de 1848 foi importante não só na Inglaterra, mas em vários países do mundo, marcado por uma onda revolucionária conhecida como a "Primavera dos Povos".
Normalmente o movimento de 1848 é apresentado sob a ótica das idéias liberais e nacionalistas, particularmente nas regiões italianas e alemãs. Porém, como justificar então o nome dado ao movimento? Essa situação é bastante desigual nos países europeus. Se, é verdade que o sentimento nacionalista predomina na Alemanha e Itália, e que a burguesia lidera o movimento contra os governos absolutistas, a classe operária, mesmo de forma incipiente faz seu aparecimento de forma independente, com suas próprias reivindicações e formas de organização.
               Na França a Revolução de 1848 foi um momento de importante ascensão e organização independente da classe operária, seu apogeu ocorreu quando do movimento conhecido como "Comuna de Paris" em 1871, porém não só o movimento operário inglês e francês estavam em ascensão, em outros países europeus e também nos EUA surgiam movimentos de trabalhadores, principalmente imigrantes, que viviam em condições de superexploração.
Uma data que poucos trabalhadores realmente sabem a sua origem, mas que os governos e a burguesia conhecem bem e por isto fazem este teatro de parabenizar, homenagear e enaltecer o trabalho ao bom estilo do pão e circo dos romanos. Pois fazendo isto aliviam sua culpa, não pelo fato que originou a data, mas pelo que continua acontecendo ainda hoje com os trabalhadores: mutilações, fome, miséria e guerras. Tudo em nome da acumulação de riqueza por alguns em detrimento da maioria da população mundial.
Em Chicago, assim como no resto do mundo, muitos donos de fábricas eram prepotentes e racistas e tratavam seus empregados como máquinas humanas. O dia-a-dia dos operários nessas fábricas era idêntico ao dos trabalhadores europeus: horas intermináveis de trabalho e recebiam salários que mal davam para alimentar uma única pessoa. Os locais de trabalho eram sujos, sem ventilação e faltavam banheiros. A disciplina era extremamente rígida. Um capataz vigiava de perto os trabalhadores e ao cometerem a mínima falta, como deixar a janela aberta, estar sujo, lavar-se no trabalho, assoviar ou cochichar no serviço, resultava em multa. As multas eram descontadas dos salários, o que tornava a situação do operário ainda mais difícil.
Para diminuir os gastos e aumentar seus lucros, os donos das fábricas preferiam o serviço de mulheres e de crianças ao dos homens. No início, buscavam essas crianças nos orfanatos. Com o tempo, passaram a empregar os filhos de operários, cuja idade variava entre sete e quinze anos. Era normal uma criança trabalhar quatorze horas por dia, correndo sempre o risco de perder um dedo, mão ou braço ao lidar com as máquinas.
Portanto, não é uma data a ser comemorada, mas lembrada, um dia de luto em memória dos que morreram lutando por melhores condições de vida e de trabalho e que passados 130 anos percebemos que muito pouco ou quase nada mudou. Os trabalhadores continuam sofrendo as conseqüências das precárias condições de trabalho, as chamadas doenças ocupacionais estão aí para comprovar, principalmente as LER/DORT, mas também as doenças psíquicas oriundas da pressão exercida no cotidiano dos trabalhadores e os acidentes de trabalho continuam mutilando e matando mais que qualquer outra causa.
Os adoecimentos em função do trabalho (tanto mentais quanto físicos), os baixos salários, as perseguições quando os trabalhadores tentam se organizar para reivindicar melhores salários e condições de trabalho é constante nas empresas. Os trabalhadores que fazem greves, que se mobilizam são taxados de baderneiros, atrasados, agitadores e de radicais. Na verdade os radicais são aqueles que em maio de 1886 mandaram assassinar os trabalhadores em Chicago, são aqueles que em março de 1857 incendiaram uma fábrica têxtil cheia de mulheres, trabalhadoras que estavam protestando (hoje as mulheres trabalhadoras lembram esta data como dia de luta e luto, enquanto as burguesas fazem desfiles de moda e comemoram com chás reverenciados pelas colunas sociais dos jornais). Radicais são aqueles que promoveram os massacres operários de Rio Grande em 1950, e de Santana do Livramento, ocorrido em 1951, quando a polícia espancou e metralhou os trabalhadores.
Estes lamentáveis momentos históricos revelam a brutalidade com a qual sempre foram tratados os trabalhadores. Se fôssemos aqui enumerar todas as formas de opressão e exploração que aconteceram e ainda acontecem (ex: trabalho escravo em São Paulo, nos canaviais, nas minas, fazendas), faltaria espaço. Infelizmente, estes crimes nunca foram punidos.
A mídia tem papel importante neste contexto, embora no início do século XX os gráficos e jornalistas estivessem sempre na organização dos protestos, hoje não se reconhecem como trabalhadores e fazem o jogo do capital, escondendo ou dando um enfoque diferente para a data. Cabe lembrar que muitos jornalistas morreram nas mãos da “polícia dos patrões”.
Aponta-se que o caráter massificador do Dia do Trabalho, no Brasil, se expressa especialmente pelo costume que os governos têm de anunciar neste dia o aumento anual do salário mínimo, é com satisfação que noto a mudança nos últimos anos a mudança promovida pelo Governo Lula e agora da Dilma em anunciar esse aumento em data diferente, ainda que as condições de exploração pelos capitalistas donos dos meios de produção continuem da mesma forma
A história do 1º de Maio
Num congresso de trabalhadores realizado em Chicago em 1884, um marceneiro sugeriu que a partir de 1º de maio de 1886, os trabalhadores cruzassem os braços nos locais onde os patrões se recusassem a aceitar a jornada de oito horas de trabalho.
Sábado, 1º de maio de 1886 As portas das fábricas, casas de comércio e repartições públicas amanheciam fechadas. Uma passeata dos trabalhadores termina com um gigantesco comício. A manifestação começa e termina de forma pacifica.
Segunda-feira, 3 de maio. A greve continua. Os operários estão concentrados em frente à porta de uma das fabricas de Chicago quando a policia chega atirando. Seis trabalhadores são mortos, cinqüenta ficam feridos e muitos outros são presos.
Terça-feira, 4 de maio. Os trabalhadores e suas famílias estão reunidos na Praça Heynmarket, lutando contra a violência e as injustiças. Naquele momento, uma bomba lançada por mãos desconhecidas cruza os ares indo explodir entre os policiais. A reação é imediata. Os soldados abrem fogo contra a multidão, matando centenas de pessoas de todas as idades: é o Massacre de Haymarket.
Os lideres operários são presos e responsabilizados injustamente pelas mortes ocorridas durante o protesto dos trabalhadores.
Em 1894, diante de continuados protestos, o governador de Illinois resolve anular a sentença que condenou à forca os lideres operários, acusando de infames o juiz, os jurados e as falsas testemunhas.
Após o massacre de 1886 os trabalhadores lutaram com dificuldades, mas conquistaram direitos como a redução da jornada de trabalho, férias, 13º salário, fundo de garantia, aposentadoria, licença maternidade, seguro-desemprego, melhorias nas condições de trabalho, etc...

Esta data até pode ser comemorada, mas acima de tudo ela deve ser de reflexão, de luto, chorada por todos os que querem um mundo sem desigualdades.

“Morreram? Quem disse, se vivos estão?
Não morre a semente lançada na terra.
Os frutos virão.
Num dia tão certo, tão claro, tão perto,
meus olhos verão” (Lila Ripoll)

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